sexta-feira, 6 de março de 2015

Embaixador dos EUA em Seul esfaqueado em evento público

Mark Lippert sofreu um corte profundo na face mas encontra-se em estado considerado estável. Coreia do Norte diz que foi "um castigo merecido".

O embaixador dos Estados Unidos em Seul foi atacado nesta quinta-feira durante um pequeno-almoço de trabalho por um sul-coreano que gritou palavras de ordem contra a presença militar norte-americana no país e a favor da reunificação com a Coreia do Norte.

O homem, identificado como Kim Ki-jong, de 55 anos, atacou o embaixador Mark Lippert com uma faca, provocando-lhe cortes profundos na face, no braço esquerdo e nas mãos.

Apesar de um corte na face com 11 centímetros de comprimento e três centímetros de profundidade, Lippert, de 42 anos, não sofreu ferimentos que possam provocar-lhe danos permanentes e está em situação considerada estável.

Mark Lippert foi nomeado embaixador em Seul há menos de cinco meses, e tinha dito várias vezes que iria procurar ter uma relação de maior proximidade com os cidadãos — tanto os norte-americanos como os sul-coreanos.

Numa dessas iniciativas, Lippert esteve presente nesta quinta-feira num pequeno-almoço organizado pelo Conselho Coreano de Reconciliação e Cooperação, num edifício localizado na mesma área da embaixada, num evento em que também iria discursar.

Não se sabe ao certo como é que o atacante iludiu a segurança, mas o correspondente da BBC em Seul, Stephen Evans, admite que tenha havido uma certa descontracção pelo facto de o evento se realizar muito perto da embaixada — em declarações à agência sul-coreana Yonhap, um dos organizadores disse que os serviços da embaixada dos EUA não pediram o reforço da segurança.

Lippert foi levado para o Hospital Severance, na zona ocidental de Seul, onde foi operado — para além do golpe mais profundo na face, foi também ferido no braço esquerdo e nas mãos. Para tratar o corte na face foram precisos 80 pontos, e Lippert terá de ficar no hospital durante três ou quatro dias.

De acordo com o relato da agência Yonhap, o embaixador norte-americano manteve-se calmo após o ataque. "Estou bem, estou bem. Não se preocupem", disse aos jornalistas quando estava a ser levado para o hospital.

Horas mais tarde, Mark Lippert escreveu uma mensagem no Twitter para agradecer o apoio que tem recebido, em nome da sua mulher, do filho e até do seu cão, Grigsby. "Estou a recuperar bem e estou muito bem-disposto. A Robyn, o Sejun, o Grigsby e eu estamos profundamente comovidos com o apoio! Voltarei assim que possível para reforçar a aliança EUA-República da Coreia!", escreveu o embaixador, terminando com um incentivo em coreano: "Vamos em frente juntos!"

Numa primeira reacção oficial, a agência de notícias norte-coreana referiu-se ao ataque como "um castigo merecido" – o embaixador dos EUA foi atacado com "a faca da justiça", lê-se num comunicado da KCNA.

Gritos contra exercícios militares
O atacante foi detido e a polícia sul-coreana admite formular uma acusação por tentativa de homicídio. Kim Ki-jong também recebeu tratamento no hospital, depois de ter partido um tornozelo durante a investida da polícia e dos seguranças para o deter, disse à Yonhap o chefe da polícia da esquadra de Jongno, em Seul, Yun Myeong-seong.

Esta foi a primeira vez que um embaixador norte-americano foi atacado em Seul, mas não foi o primeiro ataque de Kim contra um embaixador — em 2010, o homem foi condenado a dois anos de prisão, com pena suspensa, por atirar pedras contra o então embaixador japonês, Toshinori Shigei.

Se há cinco anos a sua luta era contra as reivindicações de soberania do Japão em relação às ilhas Dokdo (ou Takeshima, como são chamadas no Japão), o ataque desta quinta-feira foi justificado com os exercícios militares entre os EUA e a Coreia do Sul, que começaram na segunda-feira, e o desejo de ver as duas Coreias novamente unidas.

Kim Ki-jong tem um longo histórico de activismo e de acções violentas. Antes do ataque contra o embaixador japonês, em 2010, Kim tentou imolar-se pelo fogo em frente ao edifício da Presidência da Coreia do Sul, em 2007, exigindo que as autoridades investigassem uma alegada violação que teria acontecido no seu local de trabalho em 1988.

Em 2011, tentou homenagear o ex-líder da Coreia do Norte Kim Jong-il com um monumento no centro de Seul — os serviços secretos sul-coreanos dizem que Kim Ki-jong visitou a Coreia do Norte em seis ocasiões, entre 2006 e 2007.


Quando estava a ser levado pela polícia, o homem disse aos jornalistas que planeou o ataque contra o embaixador norte-americano durante dez dias. "Ataquei [o embaixador] porque não quero que um imbecil acabado de entrar nos 40 anos de idade vá interferir nas relações inter-coreanas", disse Kim Ki-jong.
//Publico

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