sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Manter-se “civil” no processo político

Por, Jornalista Umaro Djau

Ultimamente tem-se falado muito sobre os acordos da CEDEAO e de Conacri. Mas, entre tantas interpretações formais e informais, o que mais me preocupa é o alastramento da fragmentação política do país, em consequência destes mesmos acordos.

Antes das negociações de Conacri, dependendo dos pontos de vista de cada um, tínhamos três ou quatro partes directa ou indirectamente envolvidas no processo: o PAIGC, os 15, o PRS e “provavelmente”, o PR da República.

E com os acordos de Conacri, passamos a ter mais outras partes adicionais: a Assembleia Nacional Popular e a Sociedade Civil.

Se constitucionalmente as primeiras três ou quatro instâncias podem reclamar alguma legitimidade na partida do poder político e/ou governativo, o mesmo não se pode dizer com as últimas duas instâncias, a ANP e a Sociedade Civil.

Fazendo fé nas informações que circulam nos meios mediáticos da Guiné-Bissau, sinceramente não entendo a justificação política, legal ou constitucional (ou qualquer outra) para que estas duas instâncias propusessem nomes para o futuro primeiro-ministro da Guiné-Bissau.

O papel da ANP é de legislar ou seja criar leis fundamentais para o país.

À Sociedade Civil guineense falta ainda a sua devida contextualização nacional, mas se ela reflecte o seu conceito global de educação, mobilização e promulgação do igualitarismo social, então a sua participação (e intervenção) deveria ter sempre em conta uma clara distinção das esferas política e da governação.

Reconhece-se, no entanto, a sua utilidade funcional como um instrumento de “agitação” social, mobilização, educação, prestação de serviço social, e advocacia. Ainda assim, a Sociedade Civil guineense deve sempre se esforçar em manter uma postura de clara distinção e separação das esferas nacionais de política e da governação.

Só espero (e rezo) para que a nossa Sociedade Civil comece a exercer um papel activo, mas equidistante, na consciencialização nacional. Mas, de uma forma apolítica e neutral.

Porque se hoje a Sociedade Civil reclama a sua legitimidade representativa e política, amanhã será a vez dos poderes tradicionais e religiosos seguirem os mesmos passos. Não quero começar a imaginar uma Guiné-Bissau com centenas de organizações semi-políticas!

Por último, se a democracia é o poder do Povo, então o que é feito deste mesmo povo, cuja voz tem sido absorvida pelas tantas organizações e instituições fragmentadas da nossa praça pública?


Camaradas, deixem de fragmentar o nosso país, mesmo que isto signifique devolver de novo o poder ao meritíssimo povo-eleitor.

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