A investidora angolana pretende alcançar uma posição
relevante, mas minoritária, na Oi e manter a PT Portugal. A Sonaecom não
participa na oferta, mas está “em harmonia” com Isabel dos Santos.
São cerca de 1210 milhões de euros, ou 1,35 euros por
cada acção da PT SGPS. Isabel dos Santos vai propor aos accionistas da holding
que detém uma posição de cerca de 38% do capital da Oi que lhes vendam os seus
títulos. Da (primeira e) última vez que a PT foi alvo de OPA, em 2006, o bolo
total eram quase 12 mil milhões de euros e o valor da contrapartida, 10,5 euros
(uma revisão em alta face ao valor inicial de 9,5 euros). Eram outros tempos.
Desta vez não é a Sonaecom (dona do PÚBLICO) quem aparece a ditar os termos da
operação, mas sim a sua parceira na ZOPT (a sociedade que detém 50,01% da NOS),
Isabel dos Santos.
De acordo com um comunicado enviado neste domingo ao
final da tarde à CMVM, a filha do Presidente angolano quer comprar pelo menos
50,01% do capital da PT SGPS, através da Terra Peregrin, uma sociedade que
controla. E diz que o seu objectivo é alcançar uma posição “relevante, mas
minoritária e não de controlo, no capital da Oi”, que agora controla a PT
Portugal. Esta posição abrirá caminho à “manutenção da unidade do grupo
Portugal Telecom, reconhecendo e potenciando a capacidade tecnológica da
empresa, ao mesmo tempo que é reforçada a capacidade da Oi num momento crítico
do mercado de telecomunicações”, sublinhou o porta-voz de Isabel dos Santos
numa declaração enviada ao PÚBLICO.
A PT Portugal está neste momento a ser alvo de uma
oferta de compra do grupo francês Altice que avalia a empresa em 7000 milhões
de euros (valor que inclui a dívida), mas o fundo norte-americano Apax Partners
também está em campo para apresentar uma proposta.
O porta-voz de Isabel dos Santos esclareceu que a
oferta, “embora não tenha sido concertada previamente com a sociedade visada ou
com a Oi, é positiva e colaborante”. Por outras palavras, uma OPA que a
investidora angolana considera amigável e que faz parte de um “plano de
crescimento de longo prazo e de reforço das capacidades e dos activos humanos
das empresas envolvidas”. Mas o processo requer a “congregação de um conjunto
de vontades”, reconhece a empresária.
Este alinhamento dos astros terá como ponto de partida
uma contrapartida financeira que a dona de metade da NOS considera “justa e
equitativa tendo em conta a instabilidade e volatilidade acentuadas verificadas
no preço de mercado das acções nos seis meses anteriores à presente data"
e que representa um prémio de 11% face último valor de fecho das acções da PT
SGPS.
Sonaecom
em plano secundário
A operação, que será assessorada pelo Caixa-Banco de
Investimento, não tem a participação da Sonaecom, mas foi feita com o
“conhecimento prévio” dos parceiros portugueses e “em harmonia com os
objectivos definidos” na declaração anunciada na semana passada, garantiu o
porta-voz de Isabel dos Santos. Ou seja, por enquanto, a Sonaecom apresenta-se
com um papel secundário nesta investida à PT.
Na semana passada, Isabel dos Santos e Paulo Azevedo,
accionistas em partes iguais da ZOPT, anunciaram ao mercado o interesse em
participar numa “solução para a PT Portugal”. Uma operação que passaria pela
compra da empresa portuguesa, com a convicção de que o impacto dos remédios
(venda de activos) que seriam impostos pelo regulador da Concorrência seriam
ainda assim menores que o enorme potencial de sinergias resultante de uma
combinação de activos da PT Portugal e da NOS.
Mas antes de chegar aí (ou para chegar aí), Isabel dos
Santos parte já para a PT SGPS, a holding que ficou esvaziada de activos
operacionais no aumento de capital realizado em Maio e que tem agora como único
“pertence” a posição accionista na Oi (os cerca de 38% que vão transformar-se
em 25,6% quando estiver concluída a fusão com a Oi, previsivelmente no primeiro
trimestre de 2015, e criada a CorpCo). Será também a PT SGPS que ficará com
toda a dívida da Rioforte recebendo, em troca, opções de compra através das
quais poderá refazer a posição inicialmente prevista na nova PT/Oi, se for
conseguindo recuperar parte dos 900 milhões.
Será então a partir da PT SGPS que Isabel dos Santos
tentará chegar à PT Portugal e, aparentemente, resolver dois problemas de uma
penada, tentando também resolver o litígio em torno da operadora móvel Unitel.
Os sócios angolanos sustentam que a PT quebrou o acordo de accionistas ao
transferir 25% da Unitel para uma sociedade detida em parceria com a Helios
Investments e alegam que voltou a fazê-lo ao permitir a incorporação de activos
na Oi. Na semana passada, os accionistas da Unitel anunciaram que estão a
ponderar “opções legais” para defender os seus interesses.
Condições
da oferta
Para já, no âmbito da OPA vão ter início “de imediato
um conjunto de contactos com as entidades relevantes”: Oi, Ongoing, Novo Banco,
Visabeira, Controlinveste, entre outros. No anúncio, é referido que "a
oferente tenciona manter as grandes linhas estratégicas definidas pelo conselho
de administração da sociedade visada e os objectivos inerentes aos acordos
celebrados entre a sociedade visada e a Oi", mas a verdade é que, além das
aprovações das entidades reguladoras, Isabel dos Santos avança uma série de condições
para concretizar a oferta.
@publico
Nenhum comentário:
Postar um comentário
COMENTÁRIOS
Atenção: este é um espaço público e moderado. Não forneça os seus dados pessoais (como telefone ou morada) nem utilize linguagem imprópria.