quarta-feira, 19 de outubro de 2016

ACORDO DE CONAKRY: FIM DA CRISE OU CRISE EM STAND BY?

Por, Humberto Monteiro

"Ter razão não dá razão", diz-se algures.

A crise despoletada em Agosto de 2015 com a demissão do primeiro Governo da legislatura pelo Presidente da República, levou que tentativas várias fossem feitas para serenar os ânimos (no círculo do PAIGC), enquanto em níveis mais amplos, multilaterais, eram desenvolvidas iniciativas e acções que acabaram por envolver a comunidade internacional na busca de uma saída se não consensual, pelo menos adequada à conjuntura actual, tendo em consideração os factores endógenos e exógenos mais proeminentes.

Personalidades de renome internacional com larga experiência em mediação de conflitos; localmente, dirigentes políticos, líderes religiosos e da sociedade civil sucederam-se no vai-vem entre as partes desavindas, imbuídos da melhor das intenções. Mas, apesar de todos os esforços, aparentemente, só houve evolução quando as Nações Unidas, União Europeia, União Africana, vendo o impasse e que as coisas decorriam, deram à CEDEAO o ‘empurrãozinho’ que faltava para que pudesse assumir a mediação e comandar as operações. Ressalve-se, que a geopolítica impõe mesmo que seja assim.

A nomeação do Presidente Condé como mediador da organização sub-regional, pelos vistos, resultou. Presentemente, depois da declaração do Presidente José Mário Vaz de que na quinta-feira, depois de regressar da cerimónia de investidura do seu homólogo de Cabo Verde tratará da nomeação do Primeiro-Ministro, o país accionou o relógio da contagem decrescente. Só que, nem todas as interpretações das declarações do Chefe de Estado dão para apaziguar os espíritos guineenses.

Algumas indicam a possibilidade da escolha do PR não reflectir a indicação do PAIGC que anunciou publicamente a sua preferência por Augusto Olivais, antigo secretário nacional do Partido, deputado da bancada maioritária e do Parlamento da CEDEAO, alegadamente, sem ter em conta o critério "confiança do Presidente da República". Outras, na praça pública, alegadamente apontam que a preferência presidencial recai no General Oumar Cissoko Embaló, “pessoa da sua confiança”, como recomenda o acordo de Conakry.

O General pesa pelas suas ditas relações com personalidades africanas de alto nível incluindo chefes de governo e de estado, entre outros atributos. É considerado um potencial angariador de recursos financeiros podendo muito contribuir para obter apoios consideráveis de que o país precisa principalmente nesta altura em que está no fundo do poço submergido em dificuldades. Nesse ponto é que se verifica a colisão - PAIGC versus José Mário Vaz. Na realidade, o PAIGC antecipou-se ao decreto presidencial e anunciou o "seu" Primeiro-Ministro contrariando a confidencialidade solicitada aos participantes no fórum de Conakry, com a sua iniciativa de informar os militantes e o povo em geral do que se passa.

Na verdade, ao que consta é receio generalizado que José Mário Vaz venha a insistir numa posição que colida frontalmente com a do PAIGC. É o cenário de uma nova crise quiçá noutro formato emoldurado de outras especificidades.

Visto de um outro prisma pode-se inferir que, depois das muitas cedências que fez na mesa de negociações, o PAIGC, em contraponto, fez o anúncio para "atar" o PR à disposição constitucional "...tendo em conta os resultados eleitorais" de forma a impedir a adopção de qualquer opção que não seja a sua.

Outrossim há vozes que afirmam que todas as partes estão fatigadas com a crise e os seus efeitos colaterais, e, José Mário não fica fora. Outras ainda falam da "guerra" que o Presidente terá declarado ao próximo ex-Primeiro-Ministro Baciro Dja ao deixa-lo cair como "mango podre" ingloriamente. Isso poderá, dizem, levar José Mário Vaz a evitar, por "conveniência" mais um confronto público sobretudo com uma figura que, supostamente, sabe muitas coisas que não devem ser esparramadas ao público tendo em conta a baixa quota de popularidade de que goza como Presidente da República.

Entre rumores e ânimos expressivos das diferentes sensibilidades os cidadãos, na generalidade, aguardam impacientemente que o tempo passe célere enquanto na Função Pública o incumprimento de pagamentos salariais começa a aquecer alguns sectores. Mais: o receio é que o prolongamento da crise venha a afectar outras áreas com impacto directo no quotidiano dos cidadãos e venha a engendrar distúrbios de consequências imprevisíveis na sociedade.

«A conversar é que a gente se entende», diz o velho ditado popular, a prova disso acaba de ser dada em Conakry.

Como se usa dizer, nos últimos tempos, manda o bom senso que não haja VENCEDORES NEM VENCIDOS. O essencial é que o entendimento seja pra valer e para durar.

Pelas mostras exibidas no dia-a-dia, o povo cansado quer e deseja paz, estabilidade, tranquilidade, e garantias efectivas de progresso e desenvolvimento. Não há verdade mais que esta, um desejo honesto. VOX POPULI, VOX DEI.

O período da crise serviu para elucidar vários aspectos menos claros da política e, também, para dar uma visão clara do entendimento que a sociedade tem dela.


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