Ultimamente tem-se falado muito sobre os
acordos da CEDEAO e de Conacri. Mas, entre tantas interpretações formais e
informais, o que mais me preocupa é o alastramento da fragmentação política do
país, em consequência destes mesmos acordos.
Antes das negociações de Conacri,
dependendo dos pontos de vista de cada um, tínhamos três ou quatro partes
directa ou indirectamente envolvidas no processo: o PAIGC, os 15, o PRS e
“provavelmente”, o PR da República.
E com os acordos de Conacri, passamos a
ter mais outras partes adicionais: a Assembleia Nacional Popular e a Sociedade
Civil.
Se constitucionalmente as primeiras três
ou quatro instâncias podem reclamar alguma legitimidade na partida do poder
político e/ou governativo, o mesmo não se pode dizer com as últimas duas
instâncias, a ANP e a Sociedade Civil.
Fazendo fé nas informações que circulam
nos meios mediáticos da Guiné-Bissau, sinceramente não entendo a justificação
política, legal ou constitucional (ou qualquer outra) para que estas duas instâncias
propusessem nomes para o futuro primeiro-ministro da Guiné-Bissau.
O papel da ANP é de legislar ou seja
criar leis fundamentais para o país.
À Sociedade Civil guineense falta ainda
a sua devida contextualização nacional, mas se ela reflecte o seu conceito
global de educação, mobilização e promulgação do igualitarismo social, então a
sua participação (e intervenção) deveria ter sempre em conta uma clara
distinção das esferas política e da governação.
Reconhece-se, no entanto, a sua
utilidade funcional como um instrumento de “agitação” social, mobilização,
educação, prestação de serviço social, e advocacia. Ainda assim, a Sociedade
Civil guineense deve sempre se esforçar em manter uma postura de clara
distinção e separação das esferas nacionais de política e da governação.
Só espero (e rezo) para que a nossa
Sociedade Civil comece a exercer um papel activo, mas equidistante, na
consciencialização nacional. Mas, de uma forma apolítica e neutral.
Porque se hoje a Sociedade Civil reclama
a sua legitimidade representativa e política, amanhã será a vez dos poderes
tradicionais e religiosos seguirem os mesmos passos. Não quero começar a
imaginar uma Guiné-Bissau com centenas de organizações semi-políticas!
Por último, se a democracia é o poder do
Povo, então o que é feito deste mesmo povo, cuja voz tem sido absorvida pelas
tantas organizações e instituições fragmentadas da nossa praça pública?
Camaradas, deixem de fragmentar o nosso
país, mesmo que isto signifique devolver de novo o poder ao meritíssimo povo-eleitor.
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