segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Guiné-Bissau: O décimo erro do PAIGC e de Domingos Simões Pereira?

PAIGC declinou o convite do primeiro-ministro Embaló para integrar o governo no âmbito do acordo de Conakry. Aonde conduzirá essa atitude? Desembocará em ganhos políticos que levarão à reabilitação, reafirmação e consolidação do PAIGC como a maior força política do país ou, simplesmente, a uma catastrófica derrota de consequências imprevisíveis?

Joga-se para ganhar e não para perder. Normalmente, ninguém disputa e vence uma competição para no fim abdicar, por mais adversas que forem as condições conjunturais.

O PAIGC venceu as eleições de 2014 mas, ao que tudo indica, está prestes a abdicar com a recusa de integrar o Executivo que esta em formação. Em nome de quem? Porquê? Para quê? São muitas as interrogações que carecem de resposta imediata. É evidente que, depois dos solavancos do percurso da crise política iniciada em Agosto de 2015 com a demissão do primeiro Governo da legislatura, são horas de fazer balanço com seriedade, de forma desapaixonada, tendo apenas em vista os interesses superiores da Nação.

Vencedor das disputadas eleições de 2014, o PAIGC não conseguiu - sob a liderança de DOMINGOS SIMÕES PEREIRA - dar provas das suas reconhecidas capacidades como MAIOR organização política cuja Bancada Parlamentar é MAIORITÁRIA na ANP.
Afinal, que erros terão sido cometidos pelo solene e respeitosamente chamado "Partido de Cabral" ou "Partido dos Libertadores", que o afastaram do exercício do poder mesmo estando ao abrigo das prerrogativas constitucionais de que goza, em consequência dos resultados do escrutínio de 2014?

PRIMEIRO – DIRECÇÃO FALHADA. A Direcção congeminada pelo Congresso de Cacheu falhou rotundamente no exercício das suas atribuições. a) Não conseguiu reconciliar as partes desavindas. As contradições exacerbaram-se entre as sensibilidades. b) O líder perdeu o controlo do Partido. Pecou pela inexperiência política, incapacidade de promover diálogos produtivos e de gerir e resolver situações de crise. d) Não soube arrepiar caminho nas situações em que esse gesto poderia ter dado vantagens no acto de "liquidar" o problema definitivamente.

SEGUNDO – ESCOLHA ERRADA. As evidências provam que o PAIGC falhou na escolha do "seu" candidato presidencial. Não sendo "político de raiz", nem tão pouco do "PAIGC puro", era de esperar que a sua actuação no exercício do poder fosse imprevisível. Escapou ao Partido, o seu funcionamento não se afinou pelo mesmo diapasão dos "camaradas". E deu no que deu: UM BRAÇO-DE-FERRO INTERMINÁVEL.

TERCEIRO – GOVERNO INCLUSIVO. A formação do "Governo inclusivo". A sugestão "de fora" de adoptar esse modelo supostamente em nome da criação de um clima de tranquilidade, paz e estabilidade, foi um paliativo que não curou o mal. Por outro lado, a forma como foi estruturada não surtiu os efeitos desejados. Alguns sectores fugiram ao controlo do Chefe do Executivo.

QUARTO – USO EXCESSIVO DOS MEDIA. O excessivo recurso aos Media alegadamente para manter o país informado sobre os actos de governação, esteve encapuçado da intenção clara de conquistar a popularidade de forma a sempre ter razão nas grandes decisões. O chamado "efeito boomerang" não perdoou.

QUINTO – AUSÊNCIA DE DISCIPLINA. A "voz de comando" que faltou ao presidente do PAIGC, a falta de habilidade politica, reflectem-se no comportamento dos "Camaradas" em todos os níveis. Os desatinos nas sessões parlamentares da ANP, sobretudo, na altura da votação dos instrumentos de governação do primeiro Governo da legislatura é um exemplo. A “ausência do partido” na orientação das linhas de funcionamento da ANP que, não obstante a sua autonomia enquanto órgão legislativo tem obrigações em relação ao detentor do poder político que constitui a maioria.

SEXTO – COABITAÇÃO DIFÍCIL COM O PRESIDENTE DA REPÚBLICA. A pretensão de afastar o Presidente da República liminarmente dos actos de governação, quando podia fazer o contrário mesmo que fosse por "cortesia institucional" revelou-se um erro crasso. Não foi possível o exercício de uma coabitação pacífica.

SÉTIMO – DIVISÃO DA SOCIEDADE. A divisão da sociedade em franjas de opções políticas díspares colocou o país à deriva. A diabolização de personalidades de proa na vida nacional, a rotulação de bodes expiatórios para justificar a perenizarão da crise foi má ideia. A curto e médio prazos, os desentendimentos criados vão dificultar a cura das feridas provocadas ao longo da crise.

OITAVO – DEPENDÊNCIA DO EXTERIOR. Indicar ao país a comunidade internacional, como fonte geradora de soluções para todos os males vigentes. As soluções internas foram negligenciadas não obstante as vontades manifestadas por personalidades de reconhecida idoneidade e organizações sociais.

NONO – CASO DE VIDA OU MORTE - A personalização da crise política. A vitória ou derrota é tida como caso de vida ou morte pelos protagonistas. Manifestações foram organizadas de parte a parte. Programas radiofónicos virulentos atentatórios à moral pública.

DÉCIMO – DESORGANIZAÇÃO TOTAL - A forma como os assuntos partidários e do estado têm vindo a ser trada não deixa dúvidas quanto a desorganização do aparelho partidário e do aparelho de governação. A politização do Poder Judicial; as tentativas veladas de imiscuir a classe castrense à crise eminentemente política; perda de confiança dos militantes e dirigentes, são dignas de tomar em conta.

Em jeito de epílogo diríamos apenas que. Pela sua dimensão, pela sua historicidade, pela sua responsabilidade, em todos os domínios, há atitudes que, por mais que se julgue que há razões ponderosas, não se coadunam com a personalidade do PAIGC. Se, como se diz é verdade, na política nada é definitivo o NÃO agora pode ser SIM amanhã ou, o inverso, então a ninguém será passado um certificado de cobardia ou de incompetência pela opção de mudar o ângulo de observação, de tratamento e de abordagem da crise que já dura tanto tempo que perdeu carácter e objectividade.

Pense-se apenas que assumindo o seu devido e respectivo lugar na ANP, o PAIGC acabará por recuperar as rédeas que lhe escaparam. A arena política (me seja permitido usar este termo), é o hemiciclo parlamentar. Fora é outro espaço com regras desregradas onde toda a gente pode falar para, no fim, não se chegar a qualquer conclusão que valha a pena referir com propriedade.

O facto de haver muitos profetas da desgraça a vaticinar o que de pior se pode imaginar sobre o futuro da Guiné-Bissau não nos impede de dizer que, na nossa muito humilde opinião, participar no Governo é possível, em nome dos interesses superiores da Pátria e do Povo. É evidente que, o PAIGC deve, como é óbvio, colocar ao Primeiro-Ministro Embaló as CONDIÇÕES PRÉVIAS à sua eventual integração. Afinal, não é por acaso que se diz “A CONVERSAR É QUE A GENTE SE ENTENDE”.

"Ninguém tem o monopólio da verdade", dizia o falecido Presidente Koumba Yala.


Mais não acrescentamos!//Humberto Monteiro

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