PAIGC declinou o convite do primeiro-ministro
Embaló para integrar o governo no âmbito do acordo de Conakry. Aonde conduzirá
essa atitude? Desembocará em ganhos políticos que levarão à reabilitação,
reafirmação e consolidação do PAIGC como a maior força política do país ou,
simplesmente, a uma catastrófica derrota de consequências imprevisíveis?
Joga-se para ganhar e não para perder.
Normalmente, ninguém disputa e vence uma competição para no fim abdicar, por
mais adversas que forem as condições conjunturais.
O PAIGC venceu as eleições de 2014 mas, ao
que tudo indica, está prestes a abdicar com a recusa de integrar o Executivo
que esta em formação. Em nome de quem? Porquê? Para quê? São muitas as
interrogações que carecem de resposta imediata. É evidente que, depois dos
solavancos do percurso da crise política iniciada em Agosto de 2015 com a
demissão do primeiro Governo da legislatura, são horas de fazer balanço com
seriedade, de forma desapaixonada, tendo apenas em vista os interesses
superiores da Nação.
Vencedor das disputadas eleições de 2014, o
PAIGC não conseguiu - sob a liderança de DOMINGOS SIMÕES PEREIRA - dar provas
das suas reconhecidas capacidades como MAIOR organização política cuja Bancada
Parlamentar é MAIORITÁRIA na ANP.
Afinal, que erros terão sido cometidos pelo
solene e respeitosamente chamado "Partido de Cabral" ou "Partido
dos Libertadores", que o afastaram do exercício do poder mesmo estando ao
abrigo das prerrogativas constitucionais de que goza, em consequência dos resultados
do escrutínio de 2014?
PRIMEIRO – DIRECÇÃO FALHADA. A Direcção
congeminada pelo Congresso de Cacheu falhou rotundamente no exercício das suas
atribuições. a) Não conseguiu reconciliar as partes desavindas. As contradições
exacerbaram-se entre as sensibilidades. b) O líder perdeu o controlo do
Partido. Pecou pela inexperiência política, incapacidade de promover diálogos
produtivos e de gerir e resolver situações de crise. d) Não soube arrepiar
caminho nas situações em que esse gesto poderia ter dado vantagens no acto de "liquidar"
o problema definitivamente.
SEGUNDO – ESCOLHA ERRADA. As evidências
provam que o PAIGC falhou na escolha do "seu" candidato presidencial.
Não sendo "político de raiz", nem tão pouco do "PAIGC
puro", era de esperar que a sua actuação no exercício do poder fosse
imprevisível. Escapou ao Partido, o seu funcionamento não se afinou pelo mesmo
diapasão dos "camaradas". E deu no que deu: UM BRAÇO-DE-FERRO
INTERMINÁVEL.
TERCEIRO – GOVERNO INCLUSIVO. A formação do
"Governo inclusivo". A sugestão "de fora" de adoptar esse
modelo supostamente em nome da criação de um clima de tranquilidade, paz e
estabilidade, foi um paliativo que não curou o mal. Por outro lado, a forma
como foi estruturada não surtiu os efeitos desejados. Alguns sectores fugiram
ao controlo do Chefe do Executivo.
QUARTO – USO EXCESSIVO DOS MEDIA. O excessivo
recurso aos Media alegadamente para manter o país informado sobre os actos de
governação, esteve encapuçado da intenção clara de conquistar a popularidade de
forma a sempre ter razão nas grandes decisões. O chamado "efeito
boomerang" não perdoou.
QUINTO – AUSÊNCIA DE DISCIPLINA. A "voz
de comando" que faltou ao presidente do PAIGC, a falta de habilidade
politica, reflectem-se no comportamento dos "Camaradas" em todos os
níveis. Os desatinos nas sessões parlamentares da ANP, sobretudo, na altura da
votação dos instrumentos de governação do primeiro Governo da legislatura é um
exemplo. A “ausência do partido” na orientação das linhas de funcionamento da
ANP que, não obstante a sua autonomia enquanto órgão legislativo tem obrigações
em relação ao detentor do poder político que constitui a maioria.
SEXTO – COABITAÇÃO DIFÍCIL COM O PRESIDENTE
DA REPÚBLICA. A pretensão de afastar o Presidente da República liminarmente dos
actos de governação, quando podia fazer o contrário mesmo que fosse por
"cortesia institucional" revelou-se um erro crasso. Não foi possível
o exercício de uma coabitação pacífica.
SÉTIMO – DIVISÃO DA SOCIEDADE. A divisão da
sociedade em franjas de opções políticas díspares colocou o país à deriva. A
diabolização de personalidades de proa na vida nacional, a rotulação de bodes
expiatórios para justificar a perenizarão da crise foi má ideia. A curto e
médio prazos, os desentendimentos criados vão dificultar a cura das feridas provocadas
ao longo da crise.
OITAVO – DEPENDÊNCIA DO EXTERIOR. Indicar ao
país a comunidade internacional, como fonte geradora de soluções para todos os
males vigentes. As soluções internas foram negligenciadas não obstante as
vontades manifestadas por personalidades de reconhecida idoneidade e
organizações sociais.
NONO – CASO DE VIDA OU MORTE - A
personalização da crise política. A vitória ou derrota é tida como caso de vida
ou morte pelos protagonistas. Manifestações foram organizadas de parte a parte.
Programas radiofónicos virulentos atentatórios à moral pública.
DÉCIMO – DESORGANIZAÇÃO TOTAL - A forma como
os assuntos partidários e do estado têm vindo a ser trada não deixa dúvidas
quanto a desorganização do aparelho partidário e do aparelho de governação. A
politização do Poder Judicial; as tentativas veladas de imiscuir a classe
castrense à crise eminentemente política; perda de confiança dos militantes e
dirigentes, são dignas de tomar em conta.
Em jeito de epílogo diríamos apenas que. Pela
sua dimensão, pela sua historicidade, pela sua responsabilidade, em todos os
domínios, há atitudes que, por mais que se julgue que há razões ponderosas, não
se coadunam com a personalidade do PAIGC. Se, como se diz é verdade, na
política nada é definitivo o NÃO agora pode ser SIM amanhã ou, o inverso, então
a ninguém será passado um certificado de cobardia ou de incompetência pela
opção de mudar o ângulo de observação, de tratamento e de abordagem da crise
que já dura tanto tempo que perdeu carácter e objectividade.
Pense-se apenas que assumindo o seu devido e
respectivo lugar na ANP, o PAIGC acabará por recuperar as rédeas que lhe
escaparam. A arena política (me seja permitido usar este termo), é o hemiciclo
parlamentar. Fora é outro espaço com regras desregradas onde toda a gente pode
falar para, no fim, não se chegar a qualquer conclusão que valha a pena referir
com propriedade.
O facto de haver muitos profetas da desgraça
a vaticinar o que de pior se pode imaginar sobre o futuro da Guiné-Bissau não
nos impede de dizer que, na nossa muito humilde opinião, participar no Governo
é possível, em nome dos interesses superiores da Pátria e do Povo. É evidente
que, o PAIGC deve, como é óbvio, colocar ao Primeiro-Ministro Embaló as
CONDIÇÕES PRÉVIAS à sua eventual integração. Afinal, não é por acaso que se diz
“A CONVERSAR É QUE A GENTE SE ENTENDE”.
"Ninguém tem o monopólio da
verdade", dizia o falecido Presidente Koumba Yala.
Mais não acrescentamos!//Humberto Monteiro
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