Não é segredo para ninguém de que o PAIGC tem
sabido ganhar eleições, mas hoje este partido histórico guineense está
confrontado não só com o saber ganhar, mas sobretudo com o dilema de saber
governar. O problema, contrariamente daquilo que o partido quer admitir, é mais
interno do que externo!
Por, Umaro Djau
Um partido político sem uma profunda (ou
actualizada) visão social e humana não deixa de ser apenas um instrumento
institucional de procura e conquistas do poder.
Para além de ganhar eleições democráticas, um
verdadeiro partido político, cujo poder é-lhe confiado pelo povo, deve estar à
altura da nobreza das instituições do Estado.
Um partido político à altura das aspirações
do seu eleitorado — independentemente de hostilidades naturais próprias da democracia
— tem que saber criar condições de governabilidade susceptíveis aos ajustes
pontuais e estruturais, de acordo com a própria dinâmica social, humana e
política.
A política é das mais transformativas
ciências sociais. Assim, uma atitude estática (para não dizer radical) não é só
contraproducente, mas também prejudicial. Aliás, querendo reconhecê-lo ou não,
o pensamento popular está sempre a evoluir. Pois, “Povo Ka Burro” (O Povo não é
Burro), parafraseando um “movimento civil” recente.
E continuando o mesmo raciocínio, “Povo di
factu i ka burro” (O povo de facto não é burro) e o mais importante é não
termos uma leitura errada e, consequentemente, sermos apanhados de surpresa.
Exemplo bem fresco — a vizinha Gâmbia e a derrota do seu Presidente que só o
Allah poderia remover, Yahya Jammeh. Bem, assim decidiu fazer o Allah, diria
ele!
Em suma, políticos e partidos (sejam eles
gambianos ou guineenses) devem ser eternos aprendizes das mutações nos espaços
das suas inserções. Infelizmente para os políticos (e os seus devidos
partidos), a única forma de os avaliar é através das suas acções de governação.
Como o PAIGC é certamente o partido mais
dominante na sociedade guineense, permitam-me tomá-lo, mais uma vez, como um
exemplo na minha avaliação da arte de “saber governar”.
Não é segredo para ninguém de que o PAIGC tem
sabido ganhar eleições, mas hoje este partido histórico guineense está
confrontado não só com o saber ganhar, mas sobretudo com o dilema de saber
governar. O problema, contrariamente daquilo que o partido quer admitir, é mais
interno do que externo!
O PRS também já teve o mesmo problema entre
2000 a 2003, quando Kumba Yalá, através das suas acções, banalizou por completo
a confiança popular. E o problema era também mais interno do que externo. O PRS
continua a ser penalizado pelos erros dessa altura, apesar do seu significativo
amadurecimento político.
Reavaliar e reajustar-se sempre, sem remorsos
e em base de uma estratégia assente na realidade deve ser um constante. Pois,
quando uma atitude política não é só ficcional, mas baseada também em “negação”
do óbvio, caímos em desuso, inesperada e ingenuamente.
Como não faltam lições históricas, o PAIGC
deve saber que as oportunidades políticas não são eternas. E pior ainda, a vida
às vezes dá-nos apenas umas poucas oportunidades. Infelizmente, nem sempre
ganhamos.
Mas, as derrotas (assim como outros desafios
políticos) devem servir-nos de lições estratégicas e uma chamada de atenção
para a necessidade de adaptação. Podemos assumir o desafio com urgência ou
podemos continuar a fingir que o problema é o outro.
E como escreveu no seu livro “Os Pensamentos
Políticos e Filosóficos” (2003), Kumba Yalá dizia o seguinte: “em política,
quando se adormece sossegado, acorda-se com tudo perdido”.
Quanto ao povo, este já não parece assim tão
adormecido, contrariamente das melodias temporais do célebre cantor guineense
Zé Manel. Pode até estar a chorar no canto ou cantar no choro, mas o povo já
não pode estar adormecido.
Portanto, aos nossos ilustres políticos,
saibam também governar porque o povo terá sempre uma oportunidade para vos
julgar… Inesquecivelmente. E quando chegar esse dia, saibam também perder,
porque, afinal de contas, não souberam governar.
Patrioticamente.//Gbissau
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