segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Guiné-Bissau: Saber Ganhar e Saber Governar

Não é segredo para ninguém de que o PAIGC tem sabido ganhar eleições, mas hoje este partido histórico guineense está confrontado não só com o saber ganhar, mas sobretudo com o dilema de saber governar. O problema, contrariamente daquilo que o partido quer admitir, é mais interno do que externo!

Por, Umaro Djau

Um partido político sem uma profunda (ou actualizada) visão social e humana não deixa de ser apenas um instrumento institucional de procura e conquistas do poder.

Para além de ganhar eleições democráticas, um verdadeiro partido político, cujo poder é-lhe confiado pelo povo, deve estar à altura da nobreza das instituições do Estado.

Um partido político à altura das aspirações do seu eleitorado — independentemente de hostilidades naturais próprias da democracia — tem que saber criar condições de governabilidade susceptíveis aos ajustes pontuais e estruturais, de acordo com a própria dinâmica social, humana e política.

A política é das mais transformativas ciências sociais. Assim, uma atitude estática (para não dizer radical) não é só contraproducente, mas também prejudicial. Aliás, querendo reconhecê-lo ou não, o pensamento popular está sempre a evoluir. Pois, “Povo Ka Burro” (O Povo não é Burro), parafraseando um “movimento civil” recente.

E continuando o mesmo raciocínio, “Povo di factu i ka burro” (O povo de facto não é burro) e o mais importante é não termos uma leitura errada e, consequentemente, sermos apanhados de surpresa. Exemplo bem fresco — a vizinha Gâmbia e a derrota do seu Presidente que só o Allah poderia remover, Yahya Jammeh. Bem, assim decidiu fazer o Allah, diria ele!

Em suma, políticos e partidos (sejam eles gambianos ou guineenses) devem ser eternos aprendizes das mutações nos espaços das suas inserções. Infelizmente para os políticos (e os seus devidos partidos), a única forma de os avaliar é através das suas acções de governação.

Como o PAIGC é certamente o partido mais dominante na sociedade guineense, permitam-me tomá-lo, mais uma vez, como um exemplo na minha avaliação da arte de “saber governar”.

Não é segredo para ninguém de que o PAIGC tem sabido ganhar eleições, mas hoje este partido histórico guineense está confrontado não só com o saber ganhar, mas sobretudo com o dilema de saber governar. O problema, contrariamente daquilo que o partido quer admitir, é mais interno do que externo!

O PRS também já teve o mesmo problema entre 2000 a 2003, quando Kumba Yalá, através das suas acções, banalizou por completo a confiança popular. E o problema era também mais interno do que externo. O PRS continua a ser penalizado pelos erros dessa altura, apesar do seu significativo amadurecimento político.

Reavaliar e reajustar-se sempre, sem remorsos e em base de uma estratégia assente na realidade deve ser um constante. Pois, quando uma atitude política não é só ficcional, mas baseada também em “negação” do óbvio, caímos em desuso, inesperada e ingenuamente.

Como não faltam lições históricas, o PAIGC deve saber que as oportunidades políticas não são eternas. E pior ainda, a vida às vezes dá-nos apenas umas poucas oportunidades. Infelizmente, nem sempre ganhamos.

Mas, as derrotas (assim como outros desafios políticos) devem servir-nos de lições estratégicas e uma chamada de atenção para a necessidade de adaptação. Podemos assumir o desafio com urgência ou podemos continuar a fingir que o problema é o outro.

E como escreveu no seu livro “Os Pensamentos Políticos e Filosóficos” (2003), Kumba Yalá dizia o seguinte: “em política, quando se adormece sossegado, acorda-se com tudo perdido”.

Quanto ao povo, este já não parece assim tão adormecido, contrariamente das melodias temporais do célebre cantor guineense Zé Manel. Pode até estar a chorar no canto ou cantar no choro, mas o povo já não pode estar adormecido.

Portanto, aos nossos ilustres políticos, saibam também governar porque o povo terá sempre uma oportunidade para vos julgar… Inesquecivelmente. E quando chegar esse dia, saibam também perder, porque, afinal de contas, não souberam governar.


Patrioticamente.//Gbissau

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