A nomeação de Úmaro Sissoco Embaló ao cargo
de Primeiro-Ministro pelo Presidente José Mário Vaz constitui um enorme castigo
desferido por este último ao PAIGC de Domingos Simões Pereira. Se o PAIGC de
Domingos Simões Pereira merece ou não essa retaliação política por parte do
primeiro magistrado da nação, é outro debate. O facto é que a rejeição pelo
JOMAV de todos os possíveis nomes propostos pelo PAIGC para assumir a chefia do
executivo revela o quão radicalizado e intransigente é o nível da corrente polarização
política que se vê no país.
Penso que a nomeação de Sissoco, cujo governo
nem foi ainda formado, não é indício de apaziguamento dos hodiernos conflitos
políticos na Guiné-Bissau e muito menos constitui sinal de abertura do processo
da necessária consolidação de estabilidade política. Pelo contrário, no meu
ponto de vista esse avanço do Presidente Vaz sinaliza mais um passo dado com
vistas a decapitação política do PAIGC presidido por Simões Pereira, algo que
este último se atenta e não poupará esforços para abortar. A reação imediata do
PAIGC e do seu presidente à nomeação do jovem Embaló, manifestando a sua
absoluta demarcação em relação ao governo que este liderará, indica que o PAIGC
tende a buscar inviabilizar o referido governo, que constitui uma potencial
ameaça ao futuro político do líder dos independentistas e integrantes do seu
círculo político.
Podem dizer o que querem de Simões Pereira,
aliás, ele cometeu alguns equívocos e erros que politicamente lhe custam muito
caro hoje, mas ele me parece uma figura política inteligente e precavida. Sem
nenhuma pretensão e intenção minha de fazer apologia à violência e
intransigência política no meu país, mas, a partir de um olhar isento e
apartidário da realidade política guineense, ao PAIGC e a Simões Pereira se
justifica politicamente tentar inviabilizar e abortar o governo que está por se
formar, do qual o Primeiro-Ministro não foi indicado pelo PAIGC. Caso contrário
poderá ser eventualmente monumental a magnitude de sua sangria política.
Até que o PAIGC e o seu líder poderiam não só
adotar a estratégia de demarcação política do novo executivo, como também
juntar os cacos e se preparar para o embate eleitoral de 2018, sem necessidade
de ações de boicote ao futuro governo. Seria uma forma de galvanizar a
legitimidade política seriamente maculada e deixar todo o ônus político do país
com o JOMAV e seus aliados políticos, contudo seria uma estratégia carregada de
grande risco de desdobramentos imprevisíveis que pudessem esvaziar o próprio
líder do PAIGC dos seus importantes colaboradores políticos mais ávidos por
cargos no governo. Vide o caso de Botche Candé. Candé, que era um elemento
importante e aparentemente leal ao DSP, não hesitou em abandonar até então o
seu aliado político, assim que este último não tinha mais a máquina de
governação e logo no primeiro convite para assumir funções de ministro no
governo que naquele momento era contestado pelo PAIGC.
Esqueçamos só por um instante o idealismo e
romantismo político e assumamos o viés realista de abordagem política. José
Mário Vaz é, antes de Presidente da República, um ator político que
naturalmente se preocupa com o seu futuro político. Para JOMAV é cristalina a
percepção de que não terá um futuro político risonho com DSP liderando o PAIGC,
o que significa que a decapitação política do líder dos libertadores hoje, digo
hoje, passa a ser de vital importância política ao Presidente da República. Já
o rival político do chefe de Estado percebe a instauração de um eventual
governo sólido e produtivo sem a liderança do PAIGC, partido que deveria
governar, como uma ameaça que pode conduzir ao seu esvaziamento político no
partido e no plano nacional, consequentemente. Além de declarações incisivas de
deslegitimação do novo governo patrocinado pelo JOMAV, a mobilização da
militância e elite dirigente do PAIGC através de um contundente discurso de
coesão e unidade constitui uma estratégia encontrada por DSP como forma de
controlar e proteger o seu círculo político de eventuais cooptações políticas
palacianas.
O líder do PAIGC e seus mais diretos
colaboradores políticos tendem a ver eventual sobrevivência e caminhada normal
do governo em questão como uma condição possível de gerar seu isolamento
político. Por outro lado, se o governo de Sissoco fracassar, o pouco capital
político que ainda resguarda o questionado Presidente da República se evaporará
dele.
É muito difícil que o executivo de Sissoco
Embaló venha a ter pernas para andar. O PAIGC tentará não deixar. Se tiver
pernas e caminhar normalmente até 2018, poderá causar sérios danos políticos ao
líder do PAIGC e seu staff político.// Odemocrata
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