Uma das principais causas, se não a
principal, da fragilidade do Estado na Guiné-Bissau é a promiscuidade nas
relações institucionais. Isto é, o não respeito pela separação dos poderes e
interesses públicos do privado, onde se incluem, obviamente, os partidos
políticos, que juridicamente, nunca é demais lembrar, são organizações de direito
privado.
A partidarização da administração
pública, uma vez que é completamente utópico falar em Aparelho de Estado, é das
consequências mais drásticas dessa promiscuidade, originando e fomentando uma
instabilidade penosa nas instituições públicas, em funções que, a priori,
seriam meramente técnicas, jamais políticas.
Por outras palavras, a politização, ou
melhor, a partidarização da administração pública guineense é uma grande
enfermidade que vai corroendo as bases para o fortalecimento do Estado na
Guiné-Bissau.
Outrossim, o nível de relacionamento
entre o público e o privado, consideremos empresas de capital privado, é ainda
mais absurda e desmedida.
É normal, completamente normal, que um
dirigente da administração pública seja dono ou esteja na administração de uma
empresa de capitais privados, com ligações ao Estado, num perfeito conluio de
interesses que favorece todos os envolvidos, menos o Estado. Isso para não
falar de dirigentes partidários na administração de empresas de capital público.
É hoje normal, completamente normal, que
um deputado da nação esteja na situação acima descrita, na direcção de uma
empresa de capitais privados com ligações ao Estado, ou que seja até o
presidente da Câmara de Comércio, Indústria, Agricultura e Serviços, nada mais
que uma associação empresarial privada; quando o próprio Estatuto dos
Deputados, no seu artigo 21, referente ao impedimento, esclarece o seguinte
“Aos Deputados da Assembleia Nacional Popular são vedados os direitos de:
b) Participar no exercício de actividade de
comércio ou indústria, em concursos públicos e fornecimento de bens e serviços,
bem como em contratos com o Estado, e outras pessoas colectivas e de direito
público;”
É até normal que um deputado da nação
seja ao mesmo tempo o presidente da Federação de Futebol, a ainda assim o país
ambicionar a não politização da instituição ou a sua independência. Quimérico.
Enfim, é necessário separar o público do
privado; a administração pública dos partidos; o Estado dos agentes e
interesses económicos. Esclarecer a mescla do que é público, mas tenha a sua
autonomia administrativa a financeira, conferida pelo próprio Estado.
Questões essenciais para a criação de um
ambiente político, social e económico mais saudável, fortalecendo a democracia,
não só por via da consolidação do Estado, com instituições mais fortes e
credíveis, mas também os próprios partidos políticos.
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