Aristides Gomes afirma que greve não significa derrubar escolas. As últimas declarações do primeiro-ministro, Aristides Gomes, em que falou de "greves selvagens”.Aristides Gomes afirma que os professores não estão em condições de contribuir para a formação de jovens capazes de enfrentar as concorrências para com os filhos de ministros que estão a estudar l fora do país
O primeiro-ministro, Aristides Gomes, da etnia manjaca, a mesma do presidente José Mário Vaz, de não tem sensibilidade e nem flexibilidade para os problemas do país, afirmou sindicatos
Prossegue a troca de acusações em tom de
insulto entre o primeiro-ministro e os três sindicatos de professores das
escolas públicas que estão em greve. Aristides Gomes afirma que greve não
significa derrubar escolas.
Os três sindicatos de professores das escolas
públicas da Guiné-Bissau, em greve há quase 50 dias, acusam o
primeiro-ministro, Aristides Gomes, de não ter sensibilidade e flexibilidade
para os problemas do país, e de manter uma postura arrogante e face às greves
recorrentes dos docentes, por enquanto sem fim à vista.
A polémica em torno da resolução da paralisia
nas escolas do Estado assume a cada dia que passa proporções preocupantes, com
acusações em tom de insultos. As últimas declarações do primeiro-ministro,
Aristides Gomes, em que falou de "greves selvagens” de 20 em 20 dias até
fim do ano, praticadas pelos professores e que põem em causa o nível dos
estudantes e a competência dos professores, acabaram por aquecer o debate
público em torno do sector educativo.
"Estas greves não só põem em causa o
conhecimento dos alunos, mas também dos professores. Um professor que não
exerceu durante um ano, será que no ano seguinte terá condições para leccionar?
Mesmo nos países com estabilidade no sector da Educação fazem-se exames aos
professores todos os anos para saber se estão aptos a continuar a leccionar.
Mas se o professor passar um ou dois anos sem dar aulas por causa de greves
selvagens, será que ainda estará em condições de contribuir para a formação de
jovens capazes de enfrentar as concorrências dos que estudaram lá fora?”
Questionou no último fim-de-semana, o chefe de Governo dirigindo-se aos jovens.
Polémica
instalada
As palavras do primeiro-ministro não caíram
bem no seio dos professores que acusam Aristides Gomes de ter má conduta e de insultar
regularmente os professores ao invés de resolver os seus problemas, como disse
em entrevista à DW África Laureano Pereira, presidente do Sindicato Democrático
dos Professores. De acordo com o presidente do SINDEPROF, os sucessivos
Governos fazem promessas aos professores que nunca são cumpridas alegando
sempre que o momento não é propício para a greve nas escolas do Estado.
"Temos que continuar a nossa luta apesar
de termos um primeiro-ministro que anda a insultar os professores,
chamando-lhes de selvagens. É um primeiro-ministro insensível, inflexível,
arrogante e prepotente para com as pessoas que trabalham na área da educação.
Como é que se diz que o momento não é ideal para a greve, quando são só os
professores que não recebem? Os ministros recebem os seus salários todos os
meses e os respectivos subsídios. Os governantes ganham milhões e os seus
filhos não estudam nas escolas públicas. E ainda dizem que o momento não é propício?
“Questiona Laureano Pereira.
Pagamento
parcial das dívidas
Na entrevista à DW África, Laureano Pereira
questionou ainda a coerência e transparência do primeiro-ministro que acumula a
chefia do executivo com a pasta das finanças. O sindicalista acusa Aristides
Gomes de mandar suspender o pagamento das dívidas para com os professores, na
mesma altura em que obrigou o Estado guineense a cumprir outras obrigações.
"O primeiro-ministro recebeu o que lhe
era devido de 2006 até 2018 enquanto mandou suspender o pagamento de outras
dívidas. Onde está a coerência e a transferência deste governante? Isto não
pode ser. O que fazemos é a política laboral e não a política partidária... que
fique claro que não estamos a reboque de ninguém”, disse o sindicalista em tom
de revolta.
Os três sindicatos já apresentaram ao
primeiro-ministro um caderno reivindicativo de 17 pontos, com destaque para
implementação do Estatuto da Carreira Docente, um instrumento criado pelo
Governo, em 2011, mas que nunca foi aplicado na realidade, segundo os líderes
sindicais que agora exigem o seu cumprimento para além do pagamento, em retroactivo,
de todos os direitos inerentes.
Alunos
não têm nada para fazer em casa
Entretanto, quem sai prejudicado com o
braço-de-ferro entre o Governo e os sindicatos dos professores são os alunos.
Associação dos pais e encarregados de educação, pela voz de Abudu Indjai, fala
em desespero, silêncio, e falta de uma solução para situação:
"É um desespero total que afecta não só
os alunos, mas também os pais e encarregados de educação. Todo orgulho de um
pai é ter um filho que se ocupe de alguma coisa, que vá às aulas, que tenha um
percurso normal, mas quando o filho está parado significa que o pai fica
comprometido e os alunos em desespero. Cria uma situação de filhos ficarem
sentados nas ruas sem absolutamente nada para fazer”, lamenta.
Os sindicatos ainda exigem do Governo o
pagamento de vários meses de salários em atraso aos professores contratados e
aqueles que entraram recentemente para o quadro do Ministério da Educação, os
chamados novos ingressos, sob pena da greve ir até ao final do mês com
possibilidade de novas paralisações.
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