Aos que dançam com a prisão provisória de Sócrates
lembro que a alegria popular seria a mesma fosse qual fosse o político preso,
desde que estivesse mais rico do que quando "entrou para a política".
Seriam, a bem ver, quase todos.
OPINIÃO de MIGUEL ESTEVES CARDOSO
No Publico
A prisão de José Sócrates não é uma condenação ou uma
sentença: é uma maneira de apurar responsabilidades criminosas que podem trazer
informações importantes que, ao mesmo tempo, provam que ele próprio, José
Sócrates, não lucrou com elas. Ainda não sabemos. Só saberemos (talvez) quando
(e se) for julgado.
Como um cidadão que já foi várias vezes condenado (e
outras tantas ilibado) pelos juízes verdadeiramente incorrompíveis de Portugal,
sei que a inocência e a culpa são relativas.
Dizem que as intenções não interessam mas, para os
juízes (e para o benéfico Ministério Público), a inocência nas intenções, por
muito graves que tenham sido as consequências, é tratada como uma atenuante que
pesa.
Nunca fui preso, apesar de alguns disparates e de uma
única patifaria. Acho que a minha liberdade se deve à minha falta de riqueza.
Nunca ganhei mais do que juízo — e mesmo assim em pequena quantidade.
Aos que dançam com a prisão provisória de Sócrates
lembro que a alegria popular seria a mesma fosse qual fosse o político preso,
desde que estivesse mais rico do que quando "entrou para a política".
Seriam, a bem ver, quase todos.
É um facto que Portugal, por muito defeituoso que seja,
tem um método judicial que, não obstante os atrasos e as manigâncias, obtém
resultados, graças à excelente qualidade da nossa magistratura, que tende a ser
inteligente, empática e justa.
A nossa tragédia é não sabermos — e não
queremos — esperar por ela.
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