O
Presidente da República, José Mário Vaz pediu esta terça-feira, 3 de Março, a
conclusão de todos os processos envolvendo crime de sangue, sobretudo do
Presidente João Bernardo Vieira “Nino” e do General Tagme Na Waie, que segundo
o Chefe de Estado, são crimes que mais chocaram o sentimento colectivo do povo
guineense, por se tratar de atentados contra instituições de Estado.
José
Mário Vaz falava na cerimónia de abertura do ano judicial, realizada numa das
unidades hoteleiras da cidade de Bissau na qual estiveram presentes
responsáveis do poder judicial e o chefe de Governo, Domingos Simões Pereira.
O
Chefe de Estado, José Mário Vaz disse na sua intervenção que práticas que
mancham a imagem da justiça estão perfeitamente identificadas, nomeadamente
“enriquecimento ilícito, corrupção, peculato, nepotismo, tráfico de influência,
morosidade processual, decisões tardias e inúteis”. Sustentou ainda que estas
más práticas lesam os direitos dos cidadãos, como também põem em causa o
equilíbrio e a paz social.
“É
ingénuo pensar-se que todos esses adjectivos são exclusivos do Poder Judicial.
O sector judicial não é mais do que espelho que reflecte as nossas qualidades e
virtudes, como também os nossos vícios e deficiências enquanto comunidade
organizada em torno de instituições” afirmou.
O
Presidente da República assinalou que as “denúncias e críticas bem
fundamentadas com base em provas concretas são bem-vindas, porque queremos que
com a nossa Presidência, o medo seja parte do passado”.
“Quem
não quer críticas ou ser denunciado deve ficar em sua casa, porque quem aceita
o exercício de cargo público tem de ser descortinado pela sociedade, dentro dos
limites previstos na lei, desde que não sejam motivadas por inveja, vingança,
ódio, calúnia ou difamação”, advertiu.
Na
opinião do Chefe de Estado, o poder judicial deve denunciar e combater sem medo
todas as formas e tentativas de instrumentalização, condicionamento ou
enfraquecimento, tendo assegurado que o “poder judicial não pode
auto-excluir-se ou contribuir para a sua própria marginalização nos grandes
debates nacionais sobre a temática da justiça”.
O
presidente do Supremo Tribunal da Justiça (STJ), Paulo Sanhá afirmou na sua
intervenção que o poder judicial apolítico e apartidário é que encarna os
tribunais, através dos seus magistrados. Acrescentou ainda que a independência
do poder judicial e os recursos para o seu fortalecimento não constituem um
privilégio, mas sim “uma garantia fundamental da democracia e da vitalidade do
nosso Estado de Direito”.
“A
crise social e de valores em que estamos mergulhados é que faz com que sejam
mais diversos os sentimentos de justiça nas várias camadas da população, seja
em função da sua cultura étnica, sem em razão da sua idade ou sexo, seja ainda
em consequência dos meios económico-sociais e até geográficos em que se
inserem”, disse.
Assegurou
que o desconhecimento da quantidade de dificuldades do trabalho com que os
magistrados deparam actualmente bem como as insuficiências de meios humanos,
técnicos e materiais ao seu dispor, faz com que sistematicamente a morosidade
da justiça lhes seja imputada e não só, como também provoca um certo mal-estar
dos guineenses em relação aos seus tribunais.
Para
o Procurador-Geral da República, Hermenegildo Pereira o balanço obrigatório a
que seriam obrigados não pode ser feito com objectividade e imparcialidade, de
forma a poderem perspectivar com toda a coerência o ano judicial que se inicia.
Acrescentou que os “itens” que compõem o sector judiciário não oferecem dados
fiáveis e fidedignas, nomeadamente no domínio da concepção de políticas, de
acompanhamento do quadro normativo internacional, de criação e seguimento das
instituições internas, entre outros.
Afirmou
que a dinâmica do sector judiciário deve envolver todas as suas componentes,
pois no seu entender, a justiça tem que ser pensada de topo a base, dado que é
“um processo de intervenção necessária de vários actores, basta falhar um para
que todo o processo desmorone”.
Aproveitou
a ocasião para denunciar a situação crónica de falta de meios financeiros para
as investigações, sobretudo quando se trata de crimes complexos ou de sangue,
porque não existiu até ao momento nenhum fundo de investigação.
“Uma
vez que a investigação envolve meios, e estes são traduzidos em dinheiro.
Aliás, nenhuma estratégia de investigação criminal funciona sem suporte
financeiro. E não se pode pensar que os fundos de maneio, praticamente
inexistentes, devem servir para investigar grandes assuntos nacionais”,
esclareceu. Com Odemocrata
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