quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Republicanos conquistam o Senado, mas Hillary Clinton tem uma palavra a dizer nas presidenciais de 2016

Republicanos conquistam o Senado, mas Hillary Clinton tem uma palavra a dizer nas presidenciais de 2016. Os republicanos foram os grandes vencedores das eleições: conquistaram o Senado e 14 novos cargos de governador. Nos escombros da derrota, a democrata Hillary Clinton pode ter saído beneficiada.

O Partido Republicano foi o grande vencedor das eleições intercalares norte-americanas desta terça-feira: conseguiu eleger novos governadores, reforçou a representação na Câmara dos Representantes e, mais importante ainda, conquistou a maioria no Senado, algo que já não acontecia desde 2006. A primeira leitura dos resultados permite antever a intensificação da oposição republicana (que agora domina todo o Congresso) ao presidente Barack Obama nos seus dois últimos anos de mandato, mas há outras ilações a retirar. Por exemplo: terão as pretensões de Hillary Clinton de se tornar a candidata democrata às presidenciais de 2016 saídas reforçadas com a derrota dos democratas?

1- Hillary Clinton entre os vencedores da noite?

O jornal online Vox considera que sim. O facto de não se ter envolvido diretamente na campanha eleitoral transmitiu um sinal de afastamento face às políticas do Executivo de Obama, neste momento a braços com uma crise com várias frentes: a guerra contra o Estado Islâmico, a ameaça do vírus do ébola, a contestação à sua política de imigração e ao plano de saúde conhecido como Obamacare. Por outro lado, atenta o Vox, “um ano eleitoral mais Democrata poderia levar à ascensão de novas personalidades dentro do partido, que teriam a capacidade de disputar o lugar de candidato presidencial em 2016″, com Hillary Clinton. Em contrapartida, vários dos candidatos alternativos a Hillary caíram nestas eleições. O governador Martin O’Malley, por exemplo, viu o seu vice-governador ser derrotado no Maryland, perdendo, eventualmente, o capital político de que dispunha para concorrer às primárias do Partido Democrata.

2- Nem tudo foram derrotas para os democratas

Alguns dos temas mais queridos para a ala esquerda dos democratas, como o reforço da legislação limitativa do uso e porte de armas de fogo, a liberalização das drogas leves e o aumento do salário mínimo, tiveram resultados positivos nos referendos que aconteceram à margem das eleições: a marijuana foi legalizada em Washington D.C., no Oregon e no Alasca; o salário mínimo foi aumentado no Arkansas, Illinois e Nebraska e em Washington D.C., o distrito federal, foram alargadas as verificações de antecedentes criminais aos proprietários de armas.

Destaque também para a derrota da iniciativa que visava proteger “todos os seres humanos em qualquer estado de desenvolvimento” no Colorado e no Dakota do Norte, onde foi sujeita a referendo. Na prática, como o Observador explicou, caso esta proposta fosse aprovada seriam impostas sérias restrições às mulheres que quisessem recorrer à interrupção da gravidez, com base no princípio de que a vida humana começa na altura da conceção.

Ben Casselman, do FiveThirtyEight, um site especializado na elaboração de probabilidades resultantes das sondagens feitas em todo o país, sublinha o aparente contrassenso entre a vitória dos republicanos e os resultados nos vários referendos: “Portanto, os eleitores querem um salário mínimo mais alto, legalização da marijuana, acesso ao aborto e uma representação republicana”.

3 – Cresce a fratura entre republicanos e democratas

O especialista em ciência política, Alan Abramowitz, num debate com Greg Sargent do Washignton Post, deu conta da divisão profunda que se poderá tornar ainda mais profunda no Senado norte-americano. “Vamos ter um grupo Republicano mais conservador e um grupo Democrata mais de esquerdo, [porque] vão sair Democratas com uma posição mais moderada e vão entrar Republicanos muito conservadores”, atentou Abramowitz. Esta polarização acentuada vai tornar ainda mais difícil a colaboração entre os dois partidos e, consequentemente, a aprovação de determinadas leis.

4 – O futuro de Barack Obama

Talvez antecipando as dificuldades que vai enfrentar quando tentar negociar com os republicanos mudanças em áreas como os incentivos sociais, a Saúde e, principalmente, a Imigração, um tema que divide profundamente conservadores e liberais, Barack Obama anunciou antes das eleições que iria avançar com uma ação executiva (que não carece de aprovação do Congresso) para legalizar um número desconhecido de imigrantes ilegais. Isso mesmo anunciou o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, no dia das eleições.

No mesmo sentido, o presidente norte-americano tem consciência que terá de iniciar uma operação de charme junto do Partido Republicano, caso ambicione tornar os seus últimos dois anos à frente dos destinos do Estados Unidos menos difíceis, ao mesmo tempo que procurará segurar as pontas do seu partido, algo descontente com a presidência e fragilizado com os resultados destas eleições.

5 – E o futuro do Partido Republicano

Os republicanos não podiam ter pedido vitória mais expressiva. Além dos resultados conhecidos na Câmara dos Representantes e no Senado, conseguiram eleger governadores em 36 estados norte-americanos (quando antes eram 22), com destaque para a vitória em habituais bastiões democratas como Maryland, Massachusetts e Illinois.

A maioria dos órgãos de comunicação social norte-americana concorda num ponto: mais do que dar a vitória ao Partido Republicano, os norte-americanos quiseram castigar o presidente Obama – e castigaram-no de forma clara. O New York Times, por exemplo, compara o grau de devastação desta derrota no partido democrata com aquilo que significou a demissão de Nixon em 1974 para os republicanos – consequência do escândalo Watergate – ou a derrota de Bill Clinton nas eleições intercalares de 1994, quando os republicanos conseguiram pela primeira vez em 40 anos uma maioria na Câmara dos Representantes – depois da tentativa de reforma fracassada na área da Saúde do Executivo de Bill Clinton.


Os republicanos ganharam, por isso, um novo ímpeto para as eleições presidenciais de 2016, que vão tentar potenciar com uma oposição permanente ao presidente Obama. Todavia, como o candidato democrata não vai ser o actual ocupante da Casa Branca, que atinge o limite de mandatos, será interessante perceber como se comportará o eleitorado perante uma eventual candidatura de Hillary Clinton, o nome mais falado para ser o rosto dos democratas nas presidenciais.

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