Republicanos
conquistam o Senado, mas Hillary Clinton tem uma palavra a dizer nas
presidenciais de 2016. Os republicanos foram os grandes vencedores das
eleições: conquistaram o Senado e 14 novos cargos de governador. Nos escombros
da derrota, a democrata Hillary Clinton pode ter saído beneficiada.
O Partido
Republicano foi o grande vencedor das eleições intercalares norte-americanas
desta terça-feira: conseguiu eleger novos governadores, reforçou a
representação na Câmara dos Representantes e, mais importante ainda, conquistou
a maioria no Senado, algo que já não acontecia desde 2006. A primeira leitura
dos resultados permite antever a intensificação da oposição republicana (que
agora domina todo o Congresso) ao presidente Barack Obama nos seus dois últimos
anos de mandato, mas há outras ilações a retirar. Por exemplo: terão as
pretensões de Hillary Clinton de se tornar a candidata democrata às presidenciais
de 2016 saídas reforçadas com a derrota dos democratas?
1- Hillary
Clinton entre os vencedores da noite?
O jornal online
Vox considera que sim. O facto de não se ter envolvido diretamente na campanha
eleitoral transmitiu um sinal de afastamento face às políticas do Executivo de
Obama, neste momento a braços com uma crise com várias frentes: a guerra contra
o Estado Islâmico, a ameaça do vírus do ébola, a contestação à sua política de
imigração e ao plano de saúde conhecido como Obamacare. Por outro lado, atenta
o Vox, “um ano eleitoral mais Democrata poderia levar à ascensão de novas
personalidades dentro do partido, que teriam a capacidade de disputar o lugar
de candidato presidencial em 2016″, com Hillary Clinton. Em contrapartida,
vários dos candidatos alternativos a Hillary caíram nestas eleições. O
governador Martin O’Malley, por exemplo, viu o seu vice-governador ser
derrotado no Maryland, perdendo, eventualmente, o capital político de que
dispunha para concorrer às primárias do Partido Democrata.
2- Nem tudo
foram derrotas para os democratas
Alguns dos temas
mais queridos para a ala esquerda dos democratas, como o reforço da legislação
limitativa do uso e porte de armas de fogo, a liberalização das drogas leves e
o aumento do salário mínimo, tiveram resultados positivos nos referendos que
aconteceram à margem das eleições: a marijuana foi legalizada em Washington
D.C., no Oregon e no Alasca; o salário mínimo foi aumentado no Arkansas,
Illinois e Nebraska e em Washington D.C., o distrito federal, foram alargadas
as verificações de antecedentes criminais aos proprietários de armas.
Destaque também
para a derrota da iniciativa que visava proteger “todos os seres humanos em
qualquer estado de desenvolvimento” no Colorado e no Dakota do Norte, onde foi sujeita
a referendo. Na prática, como o Observador explicou, caso esta proposta fosse
aprovada seriam impostas sérias restrições às mulheres que quisessem recorrer à
interrupção da gravidez, com base no princípio de que a vida humana começa na
altura da conceção.
Ben Casselman,
do FiveThirtyEight, um site especializado na elaboração de probabilidades
resultantes das sondagens feitas em todo o país, sublinha o aparente
contrassenso entre a vitória dos republicanos e os resultados nos vários
referendos: “Portanto, os eleitores querem um salário mínimo mais alto,
legalização da marijuana, acesso ao aborto e uma representação republicana”.
3 – Cresce a
fratura entre republicanos e democratas
O especialista
em ciência política, Alan Abramowitz, num debate com Greg Sargent do Washignton
Post, deu conta da divisão profunda que se poderá tornar ainda mais profunda no
Senado norte-americano. “Vamos ter um grupo Republicano mais conservador e um grupo
Democrata mais de esquerdo, [porque] vão sair Democratas com uma posição mais
moderada e vão entrar Republicanos muito conservadores”, atentou Abramowitz.
Esta polarização acentuada vai tornar ainda mais difícil a colaboração entre os
dois partidos e, consequentemente, a aprovação de determinadas leis.
4 – O futuro de
Barack Obama
Talvez
antecipando as dificuldades que vai enfrentar quando tentar negociar com os
republicanos mudanças em áreas como os incentivos sociais, a Saúde e,
principalmente, a Imigração, um tema que divide profundamente conservadores e
liberais, Barack Obama anunciou antes das eleições que iria avançar com uma
ação executiva (que não carece de aprovação do Congresso) para legalizar um
número desconhecido de imigrantes ilegais. Isso mesmo anunciou o porta-voz da
Casa Branca, Josh Earnest, no dia das eleições.
No mesmo
sentido, o presidente norte-americano tem consciência que terá de iniciar uma
operação de charme junto do Partido Republicano, caso ambicione tornar os seus
últimos dois anos à frente dos destinos do Estados Unidos menos difíceis, ao
mesmo tempo que procurará segurar as pontas do seu partido, algo descontente
com a presidência e fragilizado com os resultados destas eleições.
5 – E o futuro
do Partido Republicano
Os republicanos
não podiam ter pedido vitória mais expressiva. Além dos resultados conhecidos
na Câmara dos Representantes e no Senado, conseguiram eleger governadores em 36
estados norte-americanos (quando antes eram 22), com destaque para a vitória em
habituais bastiões democratas como Maryland, Massachusetts e Illinois.
A maioria dos
órgãos de comunicação social norte-americana concorda num ponto: mais do que
dar a vitória ao Partido Republicano, os norte-americanos quiseram castigar o
presidente Obama – e castigaram-no de forma clara. O New York Times, por
exemplo, compara o grau de devastação desta derrota no partido democrata com
aquilo que significou a demissão de Nixon em 1974 para os republicanos –
consequência do escândalo Watergate – ou a derrota de Bill Clinton nas eleições
intercalares de 1994, quando os republicanos conseguiram pela primeira vez em
40 anos uma maioria na Câmara dos Representantes – depois da tentativa de
reforma fracassada na área da Saúde do Executivo de Bill Clinton.
Os republicanos
ganharam, por isso, um novo ímpeto para as eleições presidenciais de 2016, que
vão tentar potenciar com uma oposição permanente ao presidente Obama. Todavia,
como o candidato democrata não vai ser o actual ocupante da Casa Branca, que
atinge o limite de mandatos, será interessante perceber como se comportará o
eleitorado perante uma eventual candidatura de Hillary Clinton, o nome mais
falado para ser o rosto dos democratas nas presidenciais.
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