O Jornal
britânico Financial Times classifica hoje Angola como uma cleptocracia e os
seus dirigentes como uma elite indiferente ao resto da população, num artigo
sobre o novo livro do investigador Ricardo Soares de Oliveira.
O
texto, com o título 'Porque o Ocidente adora um cleptocrata', publicado hoje na
secção de Fim de Semana do jornal britânico, aborda o lançamento do livro 'Magnificent
and Beggar Land: Angola Since the Civil War', de Soares de Oliveira.
O
texto começa por dizer que "mesmo pelos padrões dos Estados petrolíferos,
Angola é quase risivelmente injusta", e descreve que "os oligarcas
deixam gorjetas de 500 euros nos restaurantes da moda em Lisboa, enquanto cerca
de uma em cada seis crianças angolanas morrem antes de terem cinco anos".
No
artigo, que estava no sábado ao final da manhã na primeira página do site do
Financial Times, refere-se que "esta pequena cleptocracia é aceite como
uma parte integrante do sistema ocidental" e explica-se que são os
expatriados que fazem a economia angolana mexer, desde as consultoras que
ajudam a definir a política económica até aos bancos que financiam os negócios.
"Os
oligarcas angolanos habitam a economia do luxo global das escolas públicas
britânicas, dos gestores de activos suíços, das lojas Hermès, etc", lê-se
no jornal, que classifica o livro sobre Angola como "maravilhoso".
O
livro, de resto, foi lançado no final da semana passada em Londres e é o
segundo da autoria de Ricardo Soares de Oliveira, um professor de Política
Africana em Oxford e faz parte do Instituto de Políticas Públicas Globais, em
Berlim.
No
texto que serve de lançamento para o livro, é feito um retrato de fortes
contrastes entre a elite e o resto da população angolana, por exemplo quando se
lê que "a clique dirigente consiste largamente numas poucas famílias de
raça mista da capital, Luanda, que considera que os cerca de 21 milhões de
angolanos negros no mato ou musseques são imperfeitamente civilizados, e com
pouco desejo para os educar".
A
relação entre Portugal e Angola faz também parte da análise do jornalista que
assina o texto, que cita o autor do livro dizendo que "por trás de cada magnata
angolano há uma equipa de gestão maioritariamente portuguesa", que não se
preocupa com as consequências da sua gestão, "por isso os estrangeiros
bombam petróleo, fazem luxuosos vestidos e constroem aeroportos sem sentido no
meio do nada".
Criticando
de forma directa as luxuosas viagens à Europa, os passeios entre capitais
europeias recorrendo a aviões a jacto, o artigo prossegue argumentando que a
crise económica fez com que os governos ocidentais procurassem novos negócios
sem olhar ao contexto político desses países, contando com o exemplo da
conhecida política de não interferência da China, um dos novos grandes
investidores em África na exploração de recursos naturais.
Depois
de criticar os governos ocidentais por não fazerem a distinção entre o dinheiro
dos governantes e o dinheiro dos Estados, porque afinal "eles empilham-no
nos nossos bancos e gastam-no nos nossos quadros, em cirurgias plásticas e em
casas de praia, para além de ações das nossas empresas, especialmente em
Portugal", o artigo termina abordando a descida do preço do petróleo.
"A
elite fez a festa durante o crescimento do petróleo. O provável impacto no
regime do colapso nos preços é pouco, porque se só se está a alimentar uma
pequena percentagem do povo, 50 dólares por barril chega e sobra".
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