Por, Dr. Fernando Casimiro
O Sr. Miguel Trovoada cometeu um gravíssimo
erro político e diplomático para Guiné-Bissau
O Representante Especial do Secretário-Geral
da ONU na Guiné-Bissau, em final de mandato, Sr. Miguel Trovoada, até pode
estar coberto de todas as razões sobre as afirmações que fez, em forma de
"aconselhamento", no meu entender, ao Presidente da República da
Guiné-Bissau, Dr. José Mário Vaz.
Porém, ao fazer esse
"aconselhamento" perante órgãos de comunicação social, cometeu um
gravíssimo erro político e diplomático.
As verdades, também têm as suas sedes
próprias de abordagem, quando o objectivo é, de facto, aconselhar
positivamente, construtivamente, visando colher resultados positivos e não
promover mais conflitos, quando o momento de crise na Guiné-Bissau impõe compromissos
e responsabilidades, não só aos políticos guineenses, mas também, aos parceiros
internacionais da Guiné-Bissau, particularmente às Nações Unidas, sobre o que
cada um diz, como diz e onde diz o que pode ou não, ser útil para a solução da
crise política.
O Sr. Miguel Trovoada, a meu ver, foi
infeliz, uma vez mais, de tantas infelicidades registadas a cada vez que se
pronuncia sobre a Guiné-Bissau e as suas declarações, ao invés de contribuírem
para a busca da concórdia face às divergências do conhecimento de todos, só vai
promover mais discórdia, porquanto servir de referência para mais acusações ao
Presidente da República da Guiné-Bissau, por partes interessadas no assunto.
Espero bem que o Presidente da República da
Guiné-Bissau não confunda os desabafos do Sr. Miguel Trovoada, com a Missão da
ONU no Mundo e, particularmente, na Guiné-Bissau.
Espero e apelo ao Presidente da República da
Guiné-Bissau, que não reaja aos desabafos do Sr. Miguel Trovoada, com atitudes
de antipatia a quem brevemente irá substitui-lo na função de Representante
Especial do Secretário-Geral da ONU na Guiné-Bissau.
A Guiné-Bissau precisa da ONU
independentemente dos seus múltiplos falhanços tendo em conta os objectivos de
suas Missões na Guiné-Bissau.
Honra seja feita ao período em que o Dr.
Ramos-Horta liderou a Missão na Guiné-Bissau!
Ao longo de 20 meses de Missão enquanto
Representante Especial do Secretário-Geral da ONU na Guiné-Bissau, o Sr. Miguel
Trovoada não foi capaz de dar continuidade à obra iniciada pelo seu antecessor,
Dr. José Ramos-Horta que, perante uma ruptura constitucional, consequente de um
golpe de Estado e de um processo de transição política e governativa, difíceis,
conseguiu promover, na Guiné-Bissau, a Paz e a Estabilidade, mas sobretudo a
confiança entre os guineenses, e entre a Comunidade Internacional e a
Guiné-Bissau, que culminaram na organização e realização de eleições
presidenciais e legislativas consideradas exemplares!
A crise por que passa a Guiné-Bissau também é
consequência do "desleixo" da Missão da UNIOGBIS na Guiné-Bissau e,
da sua liderança, através do Sr. Miguel Trovoada!
Quando um Representante Especial do
Secretário-Geral da ONU para a Guiné-Bissau resume a sua missão ao seu gabinete
de trabalho e aos encontros oficiais devidamente agendados, obviamente que não
será estranho o seu posicionamento sobre questões que têm a ver com a Missão
que lhe foi confiada.
Recordo aqui o que disse o Sr. Miguel
Trovoada em Dezembro de 2015
“Não somos nós as Nações Unidas ou a
comunidade internacional que irá trazer a paz na Guiné-Bissau. É o povo
guineense, são os seus dirigentes que devem perceber que é primeiro do
interesse deles criar as condições de desenvolvimento em relação à Guiné”. In http://www.unmultimedia.org/…/miguel-trovoada-lembra-resp…/…
Ora, se as Nações Unidas sobretudo, não têm
nada a ver com a Paz na Guiné-Bissau, como erradamente afirmou o Representante
Especial do Secretário-Geral da ONU para a Guiné-Bissau, o Sr. Miguel Trovoada,
mas sim o povo guineense, então o que está a fazer a ONU na Guiné-Bissau?
Se um dos principais propósitos das Nações
Unidas – e parte central de seu mandato – é promover e manter a paz e a
segurança internacionais, de que vale a presença da UNIOGBIS na Guiné-Bissau, e
segundo a perspectiva do Sr. Miguel Trovoada?
O que é que esteve o Sr. Miguel Trovoada a
fazer em Bissau, não na Guiné-Bissau, ao longo de 20 meses, senão, desfrutar
dos benefícios, das regalias de um honroso e pomposo cargo?
Quando é que saiu do seu Gabinete de trabalho
para se misturar com as populações, para avaliar in loco a realidade política,
social e militar na Guiné-Bissau, conversando com o cidadão comum, de todo o
país e não apenas de Bissau; com os políticos, governantes, militares etc.,
etc., como tão bem e regularmente fazia o seu antecessor, Dr. Ramos-Horta?
O Sr. Miguel Trovoada chegou e viu uma
Guiné-Bissau estabilizada, em paz e a dar sinais de mudanças positivas, graças
ao trabalho que outros fizeram, particularmente o seu antecessor, Dr.
Ramos-Horta.
Desde então, acomodou-se porque o seu
objectivo era apenas um: cumprir o seu mandato, sem ter que se envolver,
chatear com os problemas dos guineenses, ah, eles que resolvam os seus
problemas, só faltava agora eu, com esta idade, vir complicar a minha vida e a
minha reforma por causa da Guiné e dos guineenses... Julgo que era essa a visão
do Sr. Miguel Trovoada.
Findo o mandato, regresse em paz a São Tomé e
Príncipe, Sr. Miguel Trovoada e não deixe de aconselhar os políticos e os
governantes do seu país, pois os guineenses não terão saudades suas,
certamente!
A Guiné-Bissau não tem que lhe agradecer por
nada, pelo contrário, o Sr. Miguel Trovoada pelo seu desleixo, permitiu que as
pequenas mas importantes conquistas alcançadas ao longo do período de
transição, que culminaram no retorno da normalidade constitucional e na
estabilidade política e governativa pós-eleições de 2014 sofressem um duro
revés, que temos estado a assistir, sem solução à vista.
Nunca soube promover a prevenção de conflitos
na Guiné-Bissau, daí o actual estado de crise política e social.
Ao longo de 20 meses não foi capaz de
traduzir na prática, os objectivos fixados para a sua missão na Guiné-Bissau,
mas pior do que isso, ignorou um dos principais propósitos da Missão da ONU no
Mundo, que é a promoção e a manutenção da Paz e da Segurança Internacionais!
Positiva e construtivamente
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