quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Elos de gerações: o espírito de Boston

Por, Ernesto Dabo

Há dias em que o teclado assusta ou a caneta pesa mais que tonelada, porque a história que nos propomos contar, é de carga maior que as nossas capacidades. Face à semelhante situação, só a superior carga do amor nos ajuda a passar à escrita. Assim me aconteceu nesta manhã de finais de Setembro Nacional, ao colocar-me frente ao computador para partilhar com todos, o espírito de Boston.

Feito mais um mero anel na cadeia de ELOS DE GERAÇÕES, ofereceram-me presença nas celebrações de mais um 24 de Setembro, dos 43 mais dolorosos que vitoriosos, nas lindas e históricas cidades de Boston e Providence, nos Estados Unidos da América. Na manhã do dia da libertação, conquista histórica, resultante da unidade e luta da nossa nação, sintonizei a emissão online da Radio Jovem para acompanhar as celebrações da efeméride. À medida que evoluía a reportagem, crescia a angústia por constatar que nem o dia de proclamação do nosso Estado mereceu o respeito e celebração, com a devida dignidade, por parte dos seus principais dirigentes, que preferiram a garota atitude de ronha, por razões que nenhuma mente sã aceita, em gente responsável. Deixei o hotel a caminho do embarcadouro, onde nos aguardava um belíssimo navio de cruzeiro, de nome SPIRIT OF BOSTON, indignado, como raras vezes me acontece. Tal como sucedera na véspera, o acolhimento dos participantes no cais aconteceu de forma organizada, serena, elegante e inteligente. Numa perfeita harmonia de elos de gerações presentes, aguardamos o embarque num crescendo de alegria, regada de passadas e mantenhas, à nossa maneira bem guineense.

Todos confortavelmente trajados, distribuindo carinho, amizade, numa indefinível vontade de confraternizar com os seus, unidos na mesma identidade e dotados do mesmo e singular amor ao nosso amado TCHOM da GRANDE E BELA história, subscrita por AMILCAR CABRAL E COMBATENTES DA LIBERDADE DA PÁTRIA.

Quando entramos no navio, deste e daquela, se ouvia a mesma exclamção, carregada de justa ambição: “Panhano ba es barco pa ba ta bai Bubaque...” É barco fixe maaaaal”!

Ainda alguns não se tinham instalado quando outros já saltavam para a pista invadida por um vibrado Ngumbé, que o nosso DJ tinha solto no lindo espaço que nos estava reservado no navio. Tudo bonito, sobriamente decorado e repleto de tudo, com fartura. Assim se apresentava o espaço. Desde que nos fizemos ao rio, o cruzeiro tornou-se uma fraterna e viva onda de cruzamentos de amor, dignidade e sentido de pertença à mesma família em festa, do dia em que proclamou a sua liberdade. Porque as novas tecnologias de comunicação no-los permite, funcionamos em rede, trocando nobas e imagens- em directo - com outros lugares do mundo onde também se estava em celebração guineense. À escala mundial, os guineenses celebraram em elevada harmonia, que nenhuma garotice conseguiu manchar. Dos EUA à Europa, de África à Ásia, unidos, em celebração do fruto da UNIDADE E LUTA, à sua sábia maneira, o guineense puniu os gaiatos que, brincando de dirigentes, nem sequer se dão conta de que, civilizadamente, apenas aguardamos o 2018. Resistiremos até lá, para que enterremos em urnas politicas, gente que ofende o 24 de Setembro de 1973, um dos momentos de glória da nossa história, por birras politiqueiras, próprias de alienados e inflamados de barroca prepotência. Como agora se diz: GUGUI BALI PENA.

De 23 a 25 deste Setembro de 2016, vivi três dias, só comparáveis aos três momentos mais importantes da minha vida: o dia em que nasci, o 24 de Setembro de 1973 e o conjunto dos dias em que nasceram os meus filhos e netos.

Eu, que estava no elo dos mais usados (porque velhos são os trapos) diverti-me taco a taco com a GERAÇÃO SETEMBRISTA, exibindo passadas de ngumbé, tina e outras..., feliz da vida, até que desembarcamos. Estivemos mais de uma centena, durante horas, a conviver e, de todos conheci apenas um nome: GUINEENSE. Assim sendo, como citar nomes? Foi bom saber que no Espírito de Boston, espírito de unidade, fraternidade, solidariedade e amor, só esteve uma família, como noutros lugares do mundo estiveram em celebração do dia da independência nacional: família guineense. Que maravilha!


Como se não bastasse, regresso a casa com uma distinção que me deixa atolado por não saber como agradecer tamanha manifestação de carinho à minha geração, GERAÇÃO COBIANA. Olhem só para a fotografia que acompanha esta saudação ao ELOS DE GERAÇÕES.

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