Há dias em que o teclado assusta ou a caneta
pesa mais que tonelada, porque a história que nos propomos contar, é de carga
maior que as nossas capacidades. Face à semelhante situação, só a superior
carga do amor nos ajuda a passar à escrita. Assim me aconteceu nesta manhã de
finais de Setembro Nacional, ao colocar-me frente ao computador para partilhar
com todos, o espírito de Boston.
Feito mais um mero anel na cadeia de ELOS DE
GERAÇÕES, ofereceram-me presença nas celebrações de mais um 24 de Setembro, dos
43 mais dolorosos que vitoriosos, nas lindas e históricas cidades de Boston e
Providence, nos Estados Unidos da América. Na manhã do dia da libertação,
conquista histórica, resultante da unidade e luta da nossa nação, sintonizei a
emissão online da Radio Jovem para acompanhar as celebrações da efeméride. À
medida que evoluía a reportagem, crescia a angústia por constatar que nem o dia
de proclamação do nosso Estado mereceu o respeito e celebração, com a devida
dignidade, por parte dos seus principais dirigentes, que preferiram a garota
atitude de ronha, por razões que nenhuma mente sã aceita, em gente responsável.
Deixei o hotel a caminho do embarcadouro, onde nos aguardava um belíssimo navio
de cruzeiro, de nome SPIRIT OF BOSTON, indignado, como raras vezes me acontece.
Tal como sucedera na véspera, o acolhimento dos participantes no cais aconteceu
de forma organizada, serena, elegante e inteligente. Numa perfeita harmonia de
elos de gerações presentes, aguardamos o embarque num crescendo de alegria,
regada de passadas e mantenhas, à nossa maneira bem guineense.
Todos confortavelmente trajados, distribuindo
carinho, amizade, numa indefinível vontade de confraternizar com os seus,
unidos na mesma identidade e dotados do mesmo e singular amor ao nosso amado
TCHOM da GRANDE E BELA história, subscrita por AMILCAR CABRAL E COMBATENTES DA
LIBERDADE DA PÁTRIA.
Quando entramos no navio, deste e daquela, se
ouvia a mesma exclamção, carregada de justa ambição: “Panhano ba es barco pa ba
ta bai Bubaque...” É barco fixe maaaaal”!
Ainda alguns não se tinham instalado quando
outros já saltavam para a pista invadida por um vibrado Ngumbé, que o nosso DJ
tinha solto no lindo espaço que nos estava reservado no navio. Tudo bonito,
sobriamente decorado e repleto de tudo, com fartura. Assim se apresentava o
espaço. Desde que nos fizemos ao rio, o cruzeiro tornou-se uma fraterna e viva
onda de cruzamentos de amor, dignidade e sentido de pertença à mesma família em
festa, do dia em que proclamou a sua liberdade. Porque as novas tecnologias de
comunicação no-los permite, funcionamos em rede, trocando nobas e imagens- em
directo - com outros lugares do mundo onde também se estava em celebração
guineense. À escala mundial, os guineenses celebraram em elevada harmonia, que
nenhuma garotice conseguiu manchar. Dos EUA à Europa, de África à Ásia, unidos,
em celebração do fruto da UNIDADE E LUTA, à sua sábia maneira, o guineense
puniu os gaiatos que, brincando de dirigentes, nem sequer se dão conta de que,
civilizadamente, apenas aguardamos o 2018. Resistiremos até lá, para que
enterremos em urnas politicas, gente que ofende o 24 de Setembro de 1973, um
dos momentos de glória da nossa história, por birras politiqueiras, próprias de
alienados e inflamados de barroca prepotência. Como agora se diz: GUGUI BALI
PENA.
De 23 a 25 deste Setembro de 2016, vivi três
dias, só comparáveis aos três momentos mais importantes da minha vida: o dia em
que nasci, o 24 de Setembro de 1973 e o conjunto dos dias em que nasceram os
meus filhos e netos.
Eu, que estava no elo dos mais usados (porque
velhos são os trapos) diverti-me taco a taco com a GERAÇÃO SETEMBRISTA,
exibindo passadas de ngumbé, tina e outras..., feliz da vida, até que
desembarcamos. Estivemos mais de uma centena, durante horas, a conviver e, de
todos conheci apenas um nome: GUINEENSE. Assim sendo, como citar nomes? Foi bom
saber que no Espírito de Boston, espírito de unidade, fraternidade,
solidariedade e amor, só esteve uma família, como noutros lugares do mundo
estiveram em celebração do dia da independência nacional: família guineense.
Que maravilha!
Como se não bastasse, regresso a casa com uma
distinção que me deixa atolado por não saber como agradecer tamanha
manifestação de carinho à minha geração, GERAÇÃO COBIANA. Olhem só para a
fotografia que acompanha esta saudação ao ELOS DE GERAÇÕES.
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