O
meu sonho não tem a ver com o País, em abstracto, mas com o Povo, que nele
habita, com todas as suas inquietações e ansiedades, em busca de um futuro
melhor.
Esse
Povo que, um dia, aceitou submeter-se à provação extrema para lutar pela
Liberdade tendo em vista a conquista da sua Independência e a afirmação, perante
o Mundo, da sua identidade política e cultural.
Para
alcançar esse objectivo foi preciso lutar, durante anos, contra a injustiça e a
incerteza, contra a insegurança e todo o tipo de perigos, seja na cidade, seja
no mato sombrio, que o Povo em luta foi capaz de transformar na sua fortaleza
para conquistar a Liberdade e, finalmente, a Independência.
Com
coragem e espírito de união, cumpriu-se o dever patriótico da Libertação
Nacional!
Eu
tenho um sonho de que a lucidez de espírito e da inteligência dos Homens e
Mulheres, que vêm governando o nosso País, desde a Independência, os leve a
olhar, com outros olhos (com o respeito e
a dignidade que merecem, e não como um peso, no orçamento nacional) todos
aqueles que, vivos ou mortos, empenharam a sua vida, a sua adolescência e
juventude, na Luta de Libertação Nacional.
Assim,
também, os seus descendentes e outros membros da família, que, pelo sacrifício
supremo da vida, tenham perdido os seus entes queridos, ou, de alguma forma,
limitados na sua capacidade de governar a vida, porque deixaram de poder contar
com o seu auxílio.
Por
isso, devem merecer o reconhecimento e o tributo público, como dívida de
gratidão de todo o Povo Guineense e de qualquer outra gente que tenha escolhido
o nosso País como oportunidade de vida, ou simplesmente como lugar de
habitação, por algumas particularidades que oferece a quem nele se acolhe: paz,
respeito e igualdade.
Nunca
o sacrifício do Povo Libertado poderá ser comparado ao do Povo que trouxe a
Liberdade ao País!
Mas
todos sabemos como o monopólio do Poder, por parte de uma certa elite (?)
nacional conduziu o País, ao longo de anos, à perversão da realidade social e
dos valores que deveriam nortear o nosso País, numa perspectiva de justiça e
igualdade!
Nada
mais injusto e censurável, sobretudo, se visto sob o prisma dos nobres ideais
que nortearam os objectivos da Independência, que ainda estão por cumprir em
cada cidadão nacional!
Seria fastidioso enumerar as práticas do passado, tanto
no domínio da política como da vida económica e social, que criaram gritantes
desigualdades entre o Povo Libertado e o
Povo Libertador, fazendo com que uma parte minoritária
da nossa população tivesse recolhido, após a Independência, benefícios
imerecidos, fruto de traficância política e económica, arrastando atrás de si a
onda de corrução e de má governação, que está na origem da instabilidade politica
e do subdesenvolvimento económico e social que o País conheceu ao longo das
últimas décadas.
Por
isso, eu tenho um sonho que, um dia, o Parlamento Nacional do nosso País, assim
como o Governo e outros Órgãos do Poder e da Sociedade Civil sejam, de facto e
de direito, o reflexo saudável da diversidade étnica e social do nosso Povo,
baseado na igualdade, competência e justiça, e não, apenas, uma emanação de
jogo de interesses, assente em critérios arbitrários de dominação política e socioeconómico. Até quando?
Eu
tenho um sonho, sim, que a estabilidade política e social do nosso País não
seja perturbada pelos inimigos internos e externos da Nação, pois está claro
que os seus interesses não são os nossos, que queremos paz e estabilidade
social e política, com bons exemplos de relacionamento pacífico interétnico,
que o Mundo deve conhecer e dar valor!
Vamos
todos unir as mãos para que o sonho do Povo Libertador (que se sacrificou em
nome de um projecto colectivo) se converta na realidade do Povo Libertado e em
Paz!
Dr. Wilkinne
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