"Resolvemos ser livres; povos colonizados e subjugados do mundo inteiro, uni-vos”.
As origens do Pan-africanismo
Apesar de elencar como uma de suas prioridades a união
entre os diferentes países africanos, a ideia de união pan-africana não nasceu
no continente negro. Aliás, teve sua origem muito longe: no continente
americano. Um de seus principais líderes foi Sylvester Willians, um advogado de
Trinidad que conseguiu organizar a Primeira Conferência Pan-Africana em 1900,
na cidade de Londres. Essa conferência teve como objetivo primordial a criação
de um movimento que gerasse um sentimento de solidariedade com relação às
populações negras das colônias. Sylvester Willians era um dos vários
intelectuais negros da região do Caribe e sul dos Estados Unidos que juntos
buscavam uma condição mais digna para as populações negras das áreas
colonizadas.
Uma das primeiras resoluções dessa conferência
realizada em Londres foi em defesa dos negros da atual África do Sul que
estavam sofrendo com o confisco de terras por parte de ingleses e de
descendentes de holandeses (africânderes).
Outro líder importante nos primórdios do
pan-africanismo foi Burghart Du Bois, que fundou a Associação Americana para o
Progresso das Pessoas de Cor (NAACP) e, em seguida, organizou o Primeiro
Congresso Pan-Africano em Paris, no ano de 1919.
Já em 1945, outro líder de Trinidad organizou na cidade
de Manchester o V Congresso Pan-Africano, no qual foi aprovado um lema que
mostrava bem o objetivo do movimento: “Resolvemos ser livres; povos colonizados
e subjugados do mundo inteiro, uni-vos”.
A partir desse congresso tais ideias já criavam raízes
e eram adotadas por vários líderes que viviam em território africano, sejam
eles políticos ou intelectuais, que as colocariam em prática, numa luta em
geral sangrenta contra os até então poderosos impérios colonialistas europeus,
em especial França e Inglaterra. Entre esses novos líderes, destacam-se: Jomo
Kenyatta (Quênia), Peter Abrahams (África do Sul), Hailé Sellasié (Etiópia),
Namdi Azikiwe (Nigéria), Julius Nyerere (Tanzânia), Kenneth Kaunda (Zâmbia) e
Kwame Nkrumah (Gana).
Pan-africanismo
e a realidade africana
Nos congressos e conferências pan-africanas, a ideia de
união foi discutida e se encaixava perfeitamente nas necessidades de
independência e de liberdade dos povos africanos subjugados pelos europeus.
Porém, com o tempo e com as independências que passaram a ocorrer, outros
interesses vieram à tona, dificultando as relações entre os próprios governos
recém-independentes.
Nesse contexto, o VI e o VII Congresso Pan-Africano —
realizados, respectivamente, nas cidades de Kumasi (1953) e Accra (1958) —
foram reuniões nas quais as divergências fizeram surgir duas vertentes bem
distintas do pan-africanismo: o Grupo Casablanca e o Grupo Monrovia.
O primeiro (Casablanca), liderado por Kwame Nkrumah, de
Gana, era composto por Egito, Marrocos, Tunísia, Etiópia, Líbia, Sudão,
Guiné-Conacry, Mali e o Governo Provisório da República da Argélia. Defendeu a
ideia de que no final deveria ser formada uma nova instituição política e
nacional: os Estados Unidos da África, que superaria as divisões e fronteiras
criadas artificialmente pela Conferência de Berlim de 1885. O sonho dessa
vertente era fazer do continente negro um ator importante no cenário mundial, pois
unindo a África política, econômica e militarmente esse objetivo seria
certamente alcançado.
Já para o grupo Monrovia, que tinha como liderança
principal o presidente da Costa do Marfim, Félix Houphouet Boigny, as
fronteiras determinadas pela Conferência de Berlim eram intocáveis, pois cada
país tinha o direito à autodeterminação e à soberania sobre seu próprio
destino. Esse grupo também foi responsável pela fundação, em 1963, de uma das
principais entidades de organização africana: a OUA — Organização da Unidade
Africana.
Nenhum dos dois grupos atingiu seus objetivos, muito
pelo contrário. O nacionalismo africano, assim como o pan-arabismo,
praticamente se restringiu à retórica de seus líderes.
O
Pan-africanismo hoje
Diante dos fracassos da OUA e da ideia de formação dos
Estados Unidos da África, surgiu, em julho de 2001, a União Africana, cujas
estruturas burocrático-administrativas e decisórias em muitos aspectos se
assemelham às da União Europeia.
Cabe aos países-membros da União superar as dificuldades
de estruturação da nova entidade e tirá-la do papel e das meras intenções
políticas, concretizando ferramentas que realmente possam contribuir para que a
África supere suas dificuldades econômicas, políticas e sociais e avance para
uma cooperação realmente coletiva entre seus países.
Entre essas questões, destacam-se algumas: que tipo de
entidade/organização poderia intervir em situações de crimes humanitários ou
guerras? Haverá um dispositivo militar à disposição diretamente da União
Africana? Haverá instituições de fomento semelhantes ao FMI, BID ou outra forma
de contribuir para o desenvolvimento dos países?
Quando os africanos decidirem algumas dessas questões e
outras que estão no caminho, certamente a trilha do pan-africanismo será mais
facilmente percorrida e talvez chegue a condições até inimagináveis pelos pais
do pan-africanismo do outro lado do Atlântico.
Por, Dr. Wilkinne
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