O chefe de Estado angolano não será candidato
do MPLA nas eleições do próximo ano. É certo que no passado Eduardo dos Santos
já anunciou por mais de uma vez a intenção de não se recandidatar e depois
voltou atrás nessa intenção, mas é a primeira vez que põe em documento escrito
o nome do seu sucessor designado. Trata-se do atual ministro da Defesa, João
Lourenço. O assunto deverá ser o principal tema da reunião do Comité Central do
MPLA prevista para esta sexta-feira
Trinta e sete anos depois de ter sido
indicado para dirigir o MPLA em substituição de Agostinho Neto, falecido a 10
de setembro de 1979 em Moscovo, José Eduardo dos Santos reafirmou esta
quarta-feira que vai deixar de ser Presidente de Angola até finais de setembro
do próximo ano.
Permanecendo à frente da liderança do MPLA e
cumprindo a palavra dada no ano passado, em 2018 também dará definitivamente
por fim a mais de cinquenta anos de carreira política. “Essa é a vontade
expressa de alguns membros da sua família e temos que compreender e respeitar
essa vontade” – disse o governador de uma província do litoral.
O assunto, gerido com muitas pinças, deverá
ser alvo de nova abordagem durante a reunião do comité central do MPLA prevista
para esta sexta-feira. “Desgastado como está, esta é, porventura, a melhor
decisão que poderia tomar” – disse ao Expresso Jacques dos Santos, antigo
deputado do MPLA.
Sinais nesse sentido haviam sido já
transmitidos durante a última reunião da cúpula do partido governamental
quando, há quatro semanas, contra a vontade dalguns membros da sua “velha
guarda” , Eduardo dos Santos fez saber que “ não voltará a ser candidato do
MPLA às eleições de 2017”.
É certo que, depois do que acontecera em
2002, não seria a primeira vez que o Presidente angolano daria o dito pelo não
dito mas, para alguns analistas, confrontado com uma conjuntura altamente
adversa e com níveis de popularidade mais baixos de sempre, o caminho para a
reforma é agora irreversível.
Para lá de uma crescente onda de contestação
à sua figura, já de si demasiada desgastada, o débil estado de saúde de Eduardo
dos Santos está a deixá-lo também sem margem para enfrentar os grandes desafios
que se colocam ao futuro de Angola.
O próprio Eduardo dos Santos tornou isso
claro diante da cúpula do seu partido: “Estou doente, já tenho o meu candidato
e agora vocês que apresentem outros candidatos”.
Mais palavra, menos palavra, esta foi a
mensagem transmitida por Eduardo dos Santos perante alguns membros da direcção
do MPLA, encabeçados por Kundi Paihama, que insistia na sua eternização à
frente dos destinos de Angola.
Segundo apurou o Expresso, Eduardo dos Santos
apresentou pela primeira vez em documento escrito o nome do seu sucessor
designado. Trata-se de João Lourenço, um ex-comissário político das FAPLA –
antigo exército do MPLA – e atual Ministro da Defesa.
Depois de ter já desempenhado as funções de
secretário-geral do MPLA, João Lourenço, tido como um profundo conhecedor da
aparelho partidário, segundo apurou o Expresso, será o cabeça de lista deste
partido às próximas eleições.
“É discreto, goza da simpatia dos militares e
pode restaurar a ordem e a disciplina e restituir credibilidade às instituições
do Estado” – comentou um conselheiro presidencial.
Carlos Feijó, prestigiado jurista e um dos
homens de maior confiança política do Presidente, era visto nalguns círculos
como substituto de Manuel Vicente na vice presidência da República, mas ao impor
como condição para aceitar o cargo a outorga de poderes executivos mais
alargados acabou por ser afastado da corrida. Esta vaga, segundo soube o
Expresso, vai agora ser ocupada por Bornito de Sousa, atual Ministro da
Administração do Território e outro antigo comissário político no regime de
partido único.
O abandono da vida política por parte de
Eduardo dos Santos coloca, por outro lado, na futura agenda da nação o seu
futuro como cidadão.
Para Justino Pinto de Andrade, professor da
Universidade Católica, “como antigo chefe de Estado, devem ser dadas a Eduardo
dos Santos garantias, imunidades e regalias, sem que estas, todavia, sejam
extensivas à família e ao séquito”.
Este antigo dissidente do MPLA, avesso a
qualquer tipo de vingança ou de perseguições, defende que “o país tem que
pugnar pela justiça mas também pela harmonia”.//Expresso
Nenhum comentário:
Postar um comentário
COMENTÁRIOS
Atenção: este é um espaço público e moderado. Não forneça os seus dados pessoais (como telefone ou morada) nem utilize linguagem imprópria.