Depois de um debate sério, sincero, elegante
e de alto nível no dia 24 sob o tema “imigração e desenvolvimento”;
Após a reunião da 4º Assembleia Geral da FAGP
que decorreu esta manhã, 25 de Fevereiro, igualmente de forma ordeira e muito
participativa, é chrgado o momento de fazermos uma breve reflexão sobre o
associativismo guineense em Portugal.
De facto o imigrante guineense sente na pele
a dureza de viver e trabalhar fora do país: a falta de apoio social, económico,
jurídico; a não integração plena na sociedade portuguesa; a falta de habitação
ou perda dela; a descriminação disfarçada e subtil no local e trabalho... o
viver em condições precárias e em ghetos ou bairros problemáticos e
estigmatizados;
Sente igualmente na pele a necessidade de ter
que trabalhar em horários completamente desajustados com uma vida humana
condigna: iniciar o emprego as 5 ou 6 da manhã, e chegar a casa as 9 ou 11 da
noite;
Ter que abandonar os filhos ao Deus dará, sem
qualquer tipo de apoio social sustentável; sem acompanhamento, sem
enquadramento;
Estes serão o que amanhã?
Qual será o futuro de largas centenas de
crianças abandonadas à sua sorte, à deriva em lugares desconhecidos pelos
países?
Estaremos nós a viver uma nova era de
escravatura porventura disfarçada em forma de trabalho/salário?
Portugal foi um dos primeiros países a abolir
a escravatura, no reinado de D. José I, mais concretamente a 12 de Fevereiro de
1761 por Marquês de Pombal.
Mas só com o decreto de 1854 é que os
primeiros escravos começaram a ser libertados, primeiro, os do estado, e depois
os da Igreja, em 1956.
Mas desenganam-se aqueles que pensam que a
escravatura acabou. No papel sim, mas na realidade ela continua de forma mais
subtil e silenciosa.
Actualmente não são precisos barcos de
africanos; os próprios fazem questão de se deslocar à terra prometida, não
importa os sacrifícios e se preciso a própria morte. Exemplos abundam: o
cemitério do mediterrâneo o exido maciço na Síria, entre outros.
Falando dos imigrantes guineenses, um dos
principais destinos é Portugal; daqui seguem para outros países da Europa.
As condições de acolhimento, orientação,
enquadramento, empregabilidade, assistência social e outras não estão criadas e
nem vão estar nos próximos tempos.
É neste contexto que surgem as associações
guineenses; algumas são de regionais, outras sectoriais e até religiosas.
Todas elas procuram uma identidade, não
perder as raízes, e conseguir um ombro amigo; um emprego, um ganha-pão.
Há contudo uma característica fundamental
destas associações: a capacidade de olhar para trás e ajudar os que não
conseguiram ou não quiseram sair do país.
Com as suas parcas economias, conseguidas em
condições muitas vezes desumanas, conseguem enviar uma ajuda às famílias. Esta
característica deve ser preservada e incentivada.
É assim que encontramos associações, com as
suas parcas economias a promoverem projectos nas suas tabancas de origem, nas
mais diversas áreas: construção ou melhoramento de escolas, assegurando até o
pagamento dos professores para leccionarem as crianças dessas localidades;
construção de centros de saúde, infantários; envio de donativos em dinheiro e
géneros; captação de água; saneamento básico.
Ou seja, visto em termos sociológicos estas
associações estão a construir de forma empírica o conceito de solidariedade
social.
Estão a substituir o estado no seu papel
fundamental que é de garantir educação, saúde, cultura para todos, protecção
social...
Mas só isto não basta.
O país com grandes potencialidades agrícolas,
piscatórias, uma flora vastíssima, com uma população de cerca de dois milhões
de habitantes não é capaz de ser gerido pelos seus próprios filhos?
Algo de estranho se passa no reino.
E com isto termino, desafiando a todos. Temos
que ir em busca das razões que teimam a adiar o desenvolvimento da
Guiné-Bissau.
A Federação é uma instituição de todos os
guineenses; é uma cobertura de várias casas, ( as associações ); estamos a
criar um instrumento de trabalho para que as gerações futuras possam usufruir
dela e transforma-la numa grande alavanca de desenvolvimento para todos:
guineenses e portugueses.
Gratidão à U. Lusófona, na pessoa do
Professor José Paula de Almeida pelo apoio incondicional, desde da existência
da FAGP;
O nosso muito obrigado aos nossos ilustres
palestrantes, Professor Dr. Julião de Sousa e Dr. Jorge Sousa;
O nosso sentido orgulho pela moderadora Dra. Suzete
Indau que ontem demonstrar que a mulher africana é grande; consegue, com pouco,
fazer muito.
Igualmente gratos a todas as associações
federadas ou não que nos honraram com a sua presença;
Entidades das câmaras e juntas de freguesia,
ondem residem os guineenses, o nosso muito obrigado pelo apoio;
Personalidades anónimas, sempre atentam ao
desenrolar dos trabalhos, também para elas a nossa profunda gratidão.
Esperamos continuar o nosso trabalho e
voltarmos a este local ou outro dentro de pouco tempo.
Um grande abraço a todos.
Bem hajam.
Lisbia, 25 de Março de 2017
Dr. Augusto Mansoa, Presidente da Direcção
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