
Segundo
extractos noticiosos devidamente verificados pelo autor
20.11.85,
in «Diário de Lisboa» - «O
Conselho de Estado da Guiné-Bissau formalizou a demissão de Paulo Correia das
funções de primeiro Vice-Presidente daquele órgão institucional (…) … Paulo
Correia foi exonerado daquele cargo e também de ministro da Justiça e do Poder
Local. (…) O Conselho de Estado confirma que Paulo Correia estava envolvido na
fracassada tentativa de golpe de Estado de há duas semanas para depor o
Presidente «Nino» Vieira.»
25.11.85,
in Diário Popular» - «Os
conspiradores liderados por Paulo Correia tentaram desencadear por três vezes
um golpe de Estado na Guiné-Bissau, segundo uma confissão do ex-Chefe do
Departamento de Transmissões do Exército, Major Sana Fuma, divulgada pela rádio
local. (…)»
Dezembro
85, in «Africa Hoje» n° 7 – Nino
Vieira no Comício comemorativo do movimento 14 de Novembro, Praça dos Heróis
Nacionais: «Dizem que o Nino é sentimental, que tem coração mole, que não sabe
nada. Mas o Nino não é mole, camaradas, é rijo que nem ferro. (…) Nino vai ser
duro contra quem seja oportunista, tribalista ou corrupto, contra quem infrinja
a lei e, se for preciso, julgam-se os criminosos em tribunal e fuzilam-se.»
02.12.85,
in “Notícias”: Nino
Vieira à população de Cacine, região de Tombali: “ Não foi o povo balanta que
tentou derrubar Nino. Quem tentou foi um grupinho que queria o poder, mas o
poder só pode ser dado pelo povo.”
04.12.85,
in “Diário de Lisboa” –
(...) “Sobre a recente tentativa frustrada de golpe na Guiné-Bissau, o
Embaixador Leonel Vieira afirma que o predieente “Nino” Vieira “teve
conhecimento, antes da sua partida para os Estados Unidos, do golpe que estaria
a ser preparado por Paulo Correia”.
28.12.85,
in “Notícias” –
“Caso Paulo Correia marcou a Guiné-Bissau. A situação política pode ainda não
estar completamente esclarecida. Em todo o caso, é inequívoco que “Nino” Vieira
é a figura que constitui uma referência de unidade nacional e de coesão do
Partido (PAIGC) e das forças armadas.”
08.01.86,
in “Nô Pintcha” – Nino
Vieira à população dos Bijagós: “ O grupo de Paulo Correia será julgado (...)
só eles deverá ir aos tribunais e não o povo balanta. (...) esse grupo de
ambiciosos e oportunistas, que queriam com o seu condenável gesto, transformar a
Guiné-Bissau num autêntico Tchad”.
08.03.86,
in “Nô Pintcha” – A
intentona golpista encabeçada por Paulo Correia, ex-1° Vice-Presidente do
Conselho de Estado e Ministro de Estado da Justiça e Poder Local, desactivada
em Novembro findo, continua a apresentar os seus contornos internos, através
das declarações dos participantes. Desta vez coube a Viriato Pan,
ex-Procurador-Geral da República, alto funcionário do Banco nacional e do
Ministério das Finanças, retractar-se. A sua declaração manuscrita em nove
pontos que publicamos na íntegra, indica o seu percurso a partir do 14 de Novembro
de 1980, de regresso ao País, e o porquê da sua participação no Golpe de Estado
abortado, através do “convite” que lhe foi formulado por Paulo Correia.”
05.04.86,
in “Nô Pintcha” – “
(...) Entretanto, para que os deputados pudessem ver quão vil eram as intenções
de Paulo Correiua, o Comandante Kabi anunciou que “chegaram a ponto de
mobilizar alguns comandos africanos para integrar as suas unidades, comandos
que cometeram tantos crimes. Esqueceram-se disso tudo para se juntarem a eles.”
02.06.86,
in “Diário de Lisboa” – “João
Zacarias António Pereira, ex-comandante do Bombeiros Voluntários de Bissau e um
dos implicados na tentativa de golpe de Estado de que Paulo Correia é tido como
o principal instigador, faleceu ontem no hospital. (...) Um despacho da ANG
informa que (...) de 47 anos, faleceu (...) vítima de enfarte no miocárdio, que
lhe provocou paragem cardio-respiratória.
03.06.86,
in “Diário de Lisboa” – “Nino
acha que os presos políticos na Guiné-Bissau são bem tratados.”
03.06.86,
in “Diário de Lisboa” – “O
falecimento do antigo comandante dos Bombeiros Humanitários de Bissau, eleva
assim para seis o número de mortes ocorridas entre as cerca de cinco dezenas de
detidos, após a descoberta de tentativa de golpe de Estado liderada por Paulo
Correia, em Novembro do ano passado. Apenas uma das mortes, a de João da Silva,
ex-secretário de Estado do desporto e antigo comandante das Forças Armadas
Guineenses, se deveu, oficialmente às forças da segurança, quando o antigo
dirigente tentou fugir da prisão e foi abatido por um guarda.”
06.06.86,
in “Diário de Notícias” – “
O Tribunal Militar de Bissau iniciou ontem o julgamento do ex- vice-presidente
do Conselho de Estado, Paulo Correia e de outros alegados implicados numa
tentativa de golpe de Estado ocorrida em Outubro do ano passado. O julgamento
decorre no salão da Base Aérea da capital da Guiné-Bissau, após 3 terem
decorridas as formalidades legais prévias, referiu um comunicado do Tribunal
Militar, assinado pelo seu presidente, o coronel do exército Humberto Gomes.”
06.06.86,
in “Diário de Lisboa” – “Expulso
jornalista. (...) O jornalista José António Salvador, delegado desta agência em
Bissau (ANOP), noticiou na passada sexta-feira que iria começar o julgamento de
Paulo Correia, ex-vice-presidente do Conselho de Estado da Guiné- Bissau,
acusado de liderar um alegado golpe militar destinado a derrubar Nino Vieira.
Não tardou que fosse chamado à presença dos responsáveis guineenses que o
puseram “entre a espada e a parede” : “ou revelava as fontes de informação da
notícia ou seria expulso pela divulgação de um assunto que estava em segredo de
justiça...”. José Salvador não cedeu e o resultado está à vista.”
06.06.86,
in “Diário de Lisboa” – “Expulsão
de José Salvador preocupa Governo português. Estranheza e preocupação pela
expulsão do delegado da ANOP, foram manifestadas ao encarregado de Negócios da
Guiné-Bissau em Lisboa, ontem chamado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros.
(...) A direcção da ANOP recorda que foi o terceiro caso de expulsão de jornalistas
da ANOP. (...) Idêntica posição assumiu o sindicato dos Jornalistas que dá
especial ênfase à recusa de José António Salvador em revelar a suas fontes: é a
única maneira digna num caso destes por um profissional de informação. (...) De
acordo com a direcção de informação daquela agência noticiosa (ANOP), a
situação criada com a expulsão de José Salvador ultrapassa o simples quadro de
cooperação entre a Anop e a ANG para se inserir no âmbito das relações entre
Portugal e a Guiné-Bissau.”
07.06.86,
in “Expresso” – “O
julgamento de Paulo Correia, ex-vice-presidente do Conselho de Estado da
Guiné-Bissau, que se iniciou quinta-feira na capital guineense, constitui uma
“farsa judicial” – consideraram fontes diplomáticas ocidentais acreditadas em
Bissau. (...) ”
“Desde
Novembro, em várias intervenções públicas, Nino Vieira anunciou que Paulo
Correia seria fuzilado, como admite a lei guineense, caso o tribunal militar
decidisse neste sentido”.
“
(...) Nino Vieira vai prendendo sucessivamente os seus amigos: Paulo Correia,
Aristides Menezes (...), membros da sua guarda pessoal e ex-companheiros de
armas... (.) Um dos últimos presos foi o assessor de imprensa do Presidente
Nino Vieira, o jornalista Cancan, que agora é acusado de envolvimento no caso
Paulo Correia... (...) Cancan –Oscar Barbosa(...) destacou-se em Julho do ano
passado ao promover e divulgar um comunicado da Presidência guineense que
desmentia e atacava violentamente a Imprensa portuguesa que dera a notícia da
alegada preparação de um golpe de estado da autoria de Paulo Correia.”
“Esta
semana o Presidente da Guiné-Bissau convocou os membros do Tribunal Militar –
um órgão teoricamente independente – ao Palácio Presidencial alegadamente para
os repreender pela divulgação da data do início do julgamento difundida em
despacho da ANOP.”
(...)
Regista-se actualmente uma onda de repressão que envolve a perseguição policial
a membros da chamada seita religiosa “iangue-iangue” cuja expansão Nino Vieira
atribui também a Paulo Correia. Assim se vão prendendo em Catió, Bafatá, Gabu e
Nhacra eventuais apoiantes de Paulo Correia.”
07.06.86,
in “Expresso” –
Valentim Loureiro ao EXPRESSO: “Presidente
Nino Vieira é um verdadeiro humanista”. Do que conheço do Presidente Nino,
posso afirmar que é um verdadeiro humanista. Sempre o vi ultrapassar bem os
problemas internos que foram 4 surgindo na Guiné-Bissau, perdoar, recuperar os
adversários políticos, defender a pessoa humana acima de tudo. Não posso crer
portanto, que, por razões políticas, ele abdicasse destes princípios por que
sempre lutou.”
08.06.06,
in “Diário de Notícias” – “EXPULSÃO”:
“ Por se recusar a identificar as fontes de informação que lhe proporcionaram a
notícia, um jornalista português foi expulso da Guiné-Bissau. José António
Salvador, delegado da Anop naquele país, limitou-se a cumprir o que a
consciência e a deontologia profissionais impõem a qualquer jornalista.”
08.06.86,
in “Diário de Notícias” – O
Ministro de Estado da Administração Interna, Eurico de Melo, considerou ontem
ser ‘chocante para o nosso conceito de
liberdade e democracia a expulsão do jornalista da Anop José Salvador do
território da Guiné-Bissau.
11.06.86,
in “Diário de Notícias” – “O
Secretário de Estado para a Comunicação Social (...) destacou que em Portugal é de todo inconcebível o exercício
de qualquer represália só porque um jornalista guarda sigilo das suas fontes de
informação, usando, aliás, um direito que a lei lhe confere.”
12.06.86,
in “Diário de Lisboa” – “Os
advogados de defesa nomeados oficiosamente para defenderem os 58 réus conotados
com a alegada tentativa de golpe de Estado na Guiné- Bissau, liderada por Paulo
Correia, consideraram não ser fácil a sua tarefa. (...) Os advogados de defesa
nomeados oficiosamente são: Carlos Pinto Pereira, Alal Saneh, Filipe Nery, Menino
Gomes, António Abdulai Keita, Numa Pompílio Benício, Mussabcairabah Sanhá,
Waldemar Cunha e Carlos Mendonça.”
13.06.86,
in “Expresso” – “
(...) Os cárceres abarrotam, a Justiça, sumária, faz-se à porta fechada,
sucedem-se os funerais de detidos. O ministro das forças armadas é igualmente o
chefe da segurança, e - para que não restem dúvidas a ninguém sobre o destino
que espera quem desagrade o regime – acumula também a pasta da Justiça.
(...)...tudo se passa a coberto do silêncio mais cúmplice”. (...) Foi por ter
rompido esse silêncio, noticiando nos últimos meses uma sucessão de prisões e
de mortes com que o regime do Presidente João Bernardo “Nino” Vieira tem
varrido o país que o jornalista português foi expulso da Guiné-Bissau.”
14.06.86,
in “Diário Popular” – “A
Anop tem conhecimento do internamento de 13 presos num pavilhão do Hospital
Central de Bissau (dos quais um em estado grave) e ainda de cinco mortes, na
prisão, de réus deste processo (uma delas não anunciada). Outras fontes referem
15 mortes.”
17.06.86,
in “Diário de Lisboa” – “ O
procurador-geral da República da Guiné-Bissau, Joseph Turpin, declarou ser
difícil prever a data do fim do julgamento de Paulo Correia e do seu grupo em
virtude dos processos serem volumosos e complexos.”
17.06.86,
in “O Dia” – Referindo-se aos
detidos que morreram na prisão, o Procurador-geral da República, Joseph Turpin,
disse que à execepção de João da Silva (...) que foi abatido por um guarda
prisional, por tentativa de fuga em pleno dia, os restantes pereceram por
doença! (...) Precisando, disse que Agostinho Gomes faleceu no dia 1 de Maio
findo por insuficiência cardíaca. B’nhate Na Beate perdeu a vida, no dia 12 de
Fevereiro, devido à 5 tensão arterial de que padecia há muito tempo, o que o
levava várias vezes ao estrangeiro para tratamento, nomeadamente na União
Soviética. (...)... Disse igualmente que o ex-coronel Foré Na Bitna faleceu no
dia 29 de abril, devido a endema pulmonar... (...). E que João Zacarias António
Pereira (...) morreu no dia 1 de Junho devido a uma longa doença que se agravou
quando esteve preso.”
17.06.86,
in “Diário de Lisboa” – “ (...)
A classificação de farsa dada em alguns círculos diplomáticos de Bissau a este
processo jurídico não lhe atenua em nada a gravidade: o réu corre o risco de
ser condenado à morte, conforme o presidente “Nino” já o disse. (...)... João
da Silva e Agostinho Gomes (...) morreram na prisão no curto espaço de algumas
semanas e, por mais que as autoridades garantam o contrário, ninguém acredita
que se tenham finado por doença ou por desgosto. (...) Ignora-se, porém, o
paradeiro de dez pessoas dadas como “desaparecidas”, assim como se desconhece o
número exacto de presos políticos, pois a perseguição policial estende-se às
regiões menos acessíveis do país.”
18.06.86,
in “Nô Pintcha” – “ O
Tribunal Militar Superior iniciou os seus trabalhos no passado dia 5 do
corrente e prossegue normalmente as sessões de acordo com as Leis do Código do
Processo Penal e também com as normas processuais em vigor na República da Guiné-Bissau.
O Tribunal, presidido pelo coronel Humberto Gomes, é composto por Dr. João
Soares da Gama, juiz-auditor e os vogais tenente-coronel Aliu Camará,
primeiro-tenente João Gomes e o tenente José Tavares; como Promotor da Justiça
o tenente António Afonso Té.”
12.07.86,
in “Nô Pintcha” – O
Tribunal Militar Superior fará hoje às 10 horas a leitura dos quesitos e as
suas respectivas respostas, assim como da sentença, dos implicados no “Caso 17
de Outubro”, indica um comunicado do Tribunal distribuído ontem aos órgãos da
comunicação social. O julgamento do “Caso 17 de Outubro”, a tentativa de golpe
de Estado encabeçada por Paulo Correia teve início a 5 de Julho último, na Base
Aérea de Bissalanca, arredores de Bissau. O Tribunal Militar Superior é presidido
pelo camarada Coronel Humberto Gomes.”
15.07.86,
in “Carta do Centro d’Informação e Documentação Amílcar Cabral (CIDAC) ao
Presidente João Bernardo Vieira” – “ Foi com emoção que conhecemos a sentença do tribunal Militar que
condenou à morte 12 guineenses acusados de conspiração. Pedimos à V. Exa. que
use o supremo poder de clemência para comutar a pena e poupar avida dos
condenados. (...). ”
16.07.86,
in Nô Pintcha” – “ O
Tribunal Militar Superior condenou à pena de morte por fuzilamento Paulo
Correia, ex-Primeiro Vice-Presidente do Conselho de Estado. O ex-ministro da
Justiça e Poder Local, considerado pelo Tribunal figura principal da falhada
tentativa de golpe de Estado de Outubro do ano passado, “Caso 17 de Outubro”,
foi condenado à pena capital juntamente com Viriato Rodrigues Pã, Binhanquerem
Na Tchanda, Tagme Na Wae, Wagna Na N’Fade, Pedro Ramos, Braima Bangura, K’Pas
Kull, Sae Braia Nhakpa, Lamine Cissé, N’Bana Sambú e Malam Sané.
Entretanto
o Tribunal Superior Militar absolveu os réus Caramba Conté, Alberto Na Haba,
Damna N’bunde e Blacré Na Dum.
Os
restantes implicados (...) foram condenados a penas que vão de um ano a quinze
anos de “trabalho social produtivo obrigatório (SPO).
O
comunicado do tribunal Superior Militar refere que aos réus condenados à pena
capital, de acordo com a lei em vigor, assiste-lhes o direito de recorrerem ao
Conselho de Estado, pedindo a concessão de graça, no prazo de três dias.”
19.07.86,
in “Expresso” – “O
Conselho de Estado da Guiné-Bissau anunciou ontem a comutação de pena de 6 dos
12 condenados à morte... Nos seus considerandos, o documento do Conselho de
Estado, dirigido pelo Presidente João Bernardo Vieira, indica ter comutado 6
das penas à luz ‘do humanismo (...)
legado pelo fundador do PAIGC, Amílcar Cabral’, enquanto a sua
intransigência relativamente aos outros seis réus condenados à morte decorre de
um alegado ‘atentado contra’ (...) os
interesses mais profundos do povo da Guiné-Bissau’. Entre os seis
sentenciados au fuzilamento figura Paulo Correia, que era vice-presidente do
Conselho de Estado.”
19.07.86,
in Nô Pintcha” – O
Conselho de Estado decidiu comutar as penas aplicadas pelo Tribunal Militar
Superior aos réus Tagme Na Wae, Wagna na Fande, K’Pas Kull, Saia Braia Na
Nhakpa, Lamine Cissé e Malam Sane. (...) E a recusa do pedido de graça aos
réus, Paulo Correia, Viriato Rodrigues Pã, Binhanquerem Na Tchanda, Pedro
Ramos, Braima Bangura e N’Bana Sambú.
19.07.86,
in “Expresso” – “Em
contacto telefónico às 17 horas de ontem, o Presidente Mário Soares intercedeu
mais uma vez junto do Presidente da Guiné-Bissau, “Nino” Vieira, para um acto
de clemência em relação aos condenados à morte cuja pena fora confirmada horas
antes.”
“O
estadista guineense manifestou-se sensibilizado pelo teor do telefonema de Mário
Soares, embora nada adiantasse quanto à sorte de Paulo Correia (...), Viriato
Pan (...), Binhanquerem Na Tchanda (...), Pedro Ramos, Braima Bangurá e N’sambu
(...).”
“ O
contacto ontem estabelecido por Mário Soares fora antecedido, na segunda-feira,
pelo envio de Valentim Loureiro a Bissau com missão semelhante, atendendo a que
é Cônsul honorário guineense no Porto.”
“Ontem
de manhã, o Presidente da República recebeu em Belém uma delegação de
familiares dos seis condenados... (...) ”
22.07.86,
in “Diário de Notícias” – “Foram
já fuzilados os seis condenados à morte por envolvimento no alegado golpe de 17
de Outubro do ano passado, anunciou o ministro guineense dos Negócios
estrangeiros, Júlio Semedo. Além de Paulo Correia, antigo vice-presidente da
Guiné-Bissau, foram fuzilados Viriato Rodrigues Pan, Binhanquerem Na Tchanda,
Pedro Ramos, Braimo Bangura e N’bana Sambú.”
“Júlio
Semedo disse, igualmente, aos diplomatas estrangeiros, que os seis réus que
tiveram as suas penas capitais comutadas pelo Conselho de Estado vão agora
cumprir 15 anos de prisão cada um, explicando que o seu Governo pretende, no
campo interno, o reforço da unidade nacional.”
Recorte
sem data visível, in “Diário de Notícias” – “ O Ministério dos Negócios estrangeiros,
por intermédio do seu porta-voz, Embaixador Brito e Cunha, tornou pública a sua
posição a propósito dos fuzilamentos na Guiné-Bissau, afirmando que ‘ o Governo
português deplora vivamente que não tenham sido ouvidos os apelos de
clemência’, dirigidos às autoridades daquel país. (...) ”
“ O
Presidente da República enviou, cerca da meia-noite, um telegrama para Bissau,
dirigido a Maria Nascimento, viúva de um dos executados, a manifestar a sua
‘profunda indignação’ com a execução do marido, ‘ depois de ter tentado tudo
para o evitar.”
Recorte
sem data visível, in “ O Dia”, página 28
– “ Tudo está consumado. Os apelos do Papa, da Europa, do Presidente português,
do Chefe do Governo, dos guineenses em Lisboa, foram lançados para o cesto dos
papéis pelo tirano que um dia derrubou Luís Cabral. Caiu a máscara ao
‘humanista’ que o embaixador da Guiné em Portugal nos quis apresentar.”
Os
que fazem “ O Dia” acreditaram que as palavras do Embaixador da Guiné em Lisboa
correspondiam à verdade. Segundo descrição do diplomata, Nino, só de ouvir
falar em condenação à morte, punha-se a chorar...”
Recorte
sem data visível, in “ O Dia”, extracto do Comentário de Ayala Monteiro: ”Ele depôs Luis Cabral, mas,
qual iluminado detentor exclusivo da verdade, não tolera que os outros não sejam
senão o eco da voz dele. (...) O iluminado chama-se Bernardo Vieira e é
Presidente da República da Guiné-Bissau. (...) ”
26.07.86,
in “Expresso” – “
Nino Vieira e Iafai Camará, as máscaras caíram.”
“
(...) O fuzilamento de Paulo Correia, ex-vice-Presidente do Conselho de Estado
da Guiné- Bissau, acusado de tentativa de golpe de Estado contra Nino Vieira,
culmina de forma trágica a acção repressiva desencadeada em Bissau desde
Outubro do ano passado. Os pelotões de fuzilamento são a última cena de uma peça
política repetidamente ensaiada por Nino Vieira: primeiro, para depor o
ex-Presidente Luis Cabral em Novembro de 1980 e romper com Cabo Verde; depois
para apear Vitor Saúde Maria, ex-primeiro-ministro do seu gabinete até janeiro
de 1984; e agora para aniquilar Paulo Correia e todos os oficiais que se
opunham à sua política incompetente e corrupto. (...).”
“ Os
fuzilamentos de Bissau constituem um acontecimento trágico não só pela sua
crueza sangrenta e mesquinha, mas também por esse sinal que introduzem na
História comum de Portugal e da Guiné confirmando que, esta semana, Amílcar
Cabral morreu pela segunda vez.”
26.07.86,
in “Expresso” – “ (...)
Em vésperas de partir para os Estados Unidos, onde foi participar na sessão
comemorativa do 40° aniversário da ONU, o Presidente guineense, acompanhado de
membros da segurança, prendeu um grupo de oficiais das Forças Armadas em meados
de Outubro. Seguiu depois para os EUA e daí para Portugal... (...) ”
“Este
compasso de espera em Lisboa terá permitido a Iafai Camará, ministro das Forças
Armadas, e a José Pereira, responsável da polícia política, desenvolver uma
ampla acção repressiva que se saldou pela prisão de mais de cinquenta oficiais
das Forças Armadas acusados de conspirarem contra o regime. (...) ”
“ João
da Silva, um herói da luta de libertação, ex-Chefe do Estado Maior das Forças
Armadas, ex-Secretário de Estado dos Desportos e membro do Comité Central do
PAIGC, é detido, em Novembro de 1985, sob acusação de envolvimento neste caso.
Na prisão é torturado e quando protesta é abatido a tiro pelos carcereiros. A
versão oficial é ridícula: 8 para justificar o sucedido, a polícia política
afirma que o preso arrancou duas barras de ferro da sua cela com as quais
agrediu os guardas prisionais. A esta acção fria e calculada sucedem-se mais
cinco mortes nas prisões de Bissau. Todas elas ocorrem quando Nino Vieira se
encontra em viagem pelo estrangeiro. Os funerais são realizados em segredo até
que o escândalo se torna conhecido da opinião pública internacional. As
autoridades de Bissau atribuem, então, as mortes a doenças naturais dos presos,
embora se saiba na capital guineense que todas as vítimas foram sujeitas a
sevícias e torturas a que não resistiram. O ex-director do Grande Hotel,
Agostinho Gomes, é um dos detidos que falece na prisão de Bissau. A polícia
política considera que ele morreu por doença mas, durante o funeral,
constata-se que a vítima apresentava o pescoço partido. Agostinho Gomes tinha
sido acusado pelo próprio Presidente Nino de aliciar ex-comandos africanos do
Exército-português para o alegado golpe de estado.”
“OCaso 17 de Outubro” Segundo o resumo das revelações do oficial das
Forças Armadas Revolucionárias do Povo (FARP) Quebá Sambú, então Chefe dos
Serviços da Contra-Inteligência Militar (SCIM) na altura dos factos, no livro
intitulado ORDEM PARA MATAR – Dos fuzilamentos ao caso das bombas da Embaixada
da Guiné
Com
o objectivo de preparar as comemorações do 3° aniversário do golpe de Estado do
14 de Novembro de 1980, o coronel Humberto Gomes, comandante da Brigada
Mecanizada 14 de Novembro, destacou um dos seus capitães, em ocorrência o
capitão Cassamá, para ir coordenar a participação no desfile militar previsto
para o efeito, do Grupo de Artilharia Terrestre (GAT), com os seus carros de
combate BM-13 e BM-14. O capitão Cassamá pôr-seia em contacto com o
primeiro-tenente Mário M’bunde, comandante dos blindados. Entre os dois,
gerar-se-ia um mal-entendido à volta da recolha das chaves dos carros que,
afinal, poderiam estar na posse do tenente Quessala Ialá, adjunto do
primeiro-tenente Mário N’bunde. O capitão Cassamá e o primeiro-tenente Mário
M’bunde ter-se-iam acusado mutuamente do suposto transvio das chaves, até que
estas acabariam por ser encontradas.
No
entanto, o que fora um mal-entendido, transformar-se-ia numa terrível suspeita
que levaria o ministro das Forças Armadas, o coronel Iafai Camará a ordenar que
o primeiro-tenente Mário M’bunde fosse submetido a um interrogatório à volta de
um suposto transvio de chaves. No fundo, suspeitava-se que o primeiro-tenente
pertenceria a um grupo de oficiais de etnia balanta, investidos na preparação
de um golpe de Estado contra o Presidente João Bernardo Vieira. Da investigação
que se seguiu, resultaria a detenção de vários oficiais da etnia balanta, que
por sinal já constavam duma lista nominal de pretensos conspiradores, lista
essa confeccionada pela rede de informações do coronel Iafai Camará, paralela aos Serviços de Contra-inteligência
Militar (SCIM) e depositada nas mãos do próprio Presidente da República.
O
procedimento do ministro das Forças Armadas, Iafai Camará, levariam os SCIM a
recolher as declarações do sargento Dominik Sanhá, do Batalhão de Mansoa. Nas
suas declarações, aparentemente sem nenhuma hesitação, o sargento afirmaria que
os mentores da conspiração eram o Paulo Correia, ministro da Justiça e do Poder
Local, Vice-Presidente do Conselho de Estado e membro do Comité Executivo da
Luta do PAIGC e o Viriato Pã, Procurador-Geral da República. Sobre Paulo
Correia, o sargento daria informações estranhamente precisas, à volta da sua
participação nas reuniões dos presumíveis conspiradores, do local das
concentrações secretas, carro utilizado, etc. Dominik Sanhá acusaria ainda
muitos outros oficiais, na sua maioria balantas, alegadamente fazendo parte do
plano, todos indo parar à prisão.
Depois
de ter ouvido todos os detidos a comissão de inquérito acabou por considerá-los
isentos de culpa. Cada um deles pode então regressar de novo à sua unidade. O
sargento Dominik Sanhá, autor das falsas acusações, substituí-los ia na prisão.
Mas,
decididamente, embora se tenha provado a inocência dos oficiais balantas, dias
apôs o encerramento do caso, Iafai Camará ordenaria o próprio Quebá Sambú,
membro da comissão de inquérito que teria desempenhado um papel preponderante
no apuramento da inocência dos detidos, para ir entregar ao ministro da Justiça
e do Poder Local, Paulo Correia, as gravações que o acusavam de conspiração. O
visado, antes de ouvir as gravações, teria questionado se o Presidente da
República estaria a par das atitudes do seu ministro das Forças Armadas? Paulo
Correia faria “sentir a necessidade de que fossem tomadas medidas para
protegê-lo de futuras acusações falsas, tendentes a implicá-lo na organização
de qualquer atentado contra a soberania do Estado.”
Depois
do seu primeiro insucesso, o ministro Iafai Camará alargaria os seus tentáculos
recrutando mais autores à volta dos seus intentos. Assim, a orquestra passaria
a contar com um outro mestre do solfejo: o ministro do Interior, José Pereira.
Em consequência, o vice-presidente da comissão de inquérito, que estipulara a
libertação dos acusados de tentativa de golpe de Estado da segunda semana de
Dezembro de 1983, N’hare Iala Nhanta, Director-geral da segurança Nacional do
Ministério do Interior, seria demitido das suas funções e colocado nos Serviços
de Viação.
Várias
outras supostas tentativas de golpe de estado teriam sido fomentadas pelas
mesmas fontes e visando sempre a mesma figura, até aí com os mesmos resultados
de ausência de apuração (falta de provas).
O
“último semestre” de 1984 poria a nu a promoção a tenente dos membros do
Tribunal Militar. Iafai Camará tê-los-ia investido na nova patente, “numa
cerimónia clandestina em que só ele e os graduados estiveram presentes...”
De
maneira estranha, embora a promoção a tenente dos membros do Tribunal Militar
tivesse sido considerada irregular, pois não fora analisada pela Comissão das
Patentes e o EMGFA e por conseguinte não ter sido levada ao conhecimento
oficial do Presidente da República, o acto permaneceu válido. Iafai Camará,
quem não parecia disposto a relaxar a sua pressão, designaria esses “graduados
irregulares” para integrar a comissão de inquérito incumbida de aprofundar a
implicação do Paulo Correia numa alegada sedição.
Aproximativamente,
no segundo semestre de 1984, um novo golpe de Estado presumivelmente perpetrado
por oficiais balantas da Marinha de Guerra, teria sido descoberto. O Presidente
da República nomearia mais uma comissão de inquérito para se ocupar do caso.
Mais uma vez apurar-se ia a “ imaterialidade da acusação de tentativa de
sedição.” Como nos casos precedentes, um braço de ferro opunha os prós às
medidas punitivas contra os caluniadores e os contra...
Queba
Sambú, chefe dos Serviços da Contra Inteligência Militar (Serviços secretos do
Exército), em audiência pessoal com o Presidente da República, João Bernardo
Vieira, concluiria que “todas as pretensas conspirações para um golpe de Estado
tinham sido produto de intrigas insidiosas, sem um mínimo indício de
veracidade.” Seria a última vez que teria a oportunidade de se entreter com o
Presidente da República o qual “ não se dignou pronunciar uma única resposta às
sugestões apresentadas...” Queba Sambú teria sido convidado a abandonar o
gabinete do Presidente, sob pretexto da chegada duma nova visita.
Ainda
segundo as revelações contidas no livro referenciado de Queba Sambú, eis como
teria decorrido a prisão do ministro da Justiça e do Poder Local,
Vice-Presidente do Conselho de Estado da República da Guiné-Bissau e membro do
Comité Executivo de Luta do PAIGC, coronel Paulo Correia e outros dirigentes e
oficiais arrastados juntamente com ele para a prisão da Segunda Esquadra da
Polícia em Bissau:
As
ondas de tribalismo teriam ganho força e consistência acabando por subir à
superfície do próprio Batalhão da Guarda Presidencial, no palácio da República.
Chefe e vice-chefe da casa Civil da Presidência respectivamente o Binhanquerem
Na Tchanda e José Monteiro, deram-se ao exercício de acentuar o antagonismo
tribal na unidade que dirigiam. Foram decididas as suas transferências, o
primeiro para a Embaixada da Guiné-Bissau na então URSS, passando pelo
ministério dos Negócios Estrangeiros e o segundo para o ministério do Interior,
na eventualidade de seguir para Cuba.
A
viagem para Moscovo de Binhanquerem Na Tchanda estaria marcada para a
quinta-feira do dia 17 de Outubro de 1985. Alguns dias antes da sua partida, o
transferido fora despedir-se do Presidente da República, o qual, certamente
grato pelo gesto, ofereceu-lhe dinheiro em moeda americana, o dólar. Na véspera
da sua partida, o ex-chefe da casa Civil da Presidência organiza uma festa de
despedida com alguns amigos. Alguém, que se julga ser um vizinho, vendo as
portas e as janelas da casa do Binhanquerem fechadas e ouvindo vozes no
interior, teria informado o Presidente João Bernardo Vieira de que algo de
insólito se estava a passar na residência ao lado donde morava. No entender do
Presidente poder-se-ia tratar de uma grave conspiração contra ele.
O
Presidente telefonaria de antemão a um outro vizinho do Binhanquerem, que não
era nenhum outro senão o próprio Paulo Correia, pedindo-lhe que fosse verificar
a informação. Paulo Correia confirmaria ao Presidente, pelo telefone, que
efectivamente as portas e as janelas da casa em questão estavam encerradas e
havia vozes provenientes do interior. Naquela noite, João Bernardo Vieira,
rodeado dos seus guarda-costas, deslocar-se-ia pessoalmente à casa do
Binhanquerem, para se inteirar, in locco, da eventual trama que se preparava.
“Assegurando-se de que o ambiente da reunião de convívio era apenas festivo e
não de conspiração, o Presidente teve, contudo, de explicar o motivo da sua
irrupção. Ao ouvi-lo, o major Tué Na Bangha exprimiu a sua admiração por o Presidente
se deixar facilmente enredar em mentiras, observando que, se estivesse a
preparar um golpe de Estado, não se reuniriam naquelas circunstâncias, e
acrescentou não compreender como era 11 possível o Presidente admitir que
conspiravam contra ele, depois de tanto tempo e tantos sacrifícios passados
juntos.”
Isso
não impediu ao Presidente João Bernardo Vieira de dar conhecimento da cena ao
ministro do Interior, José Pereira, que por sua vez o teria transmitido ao seu
colega das Forças Armadas. Consequência directa deste jogo de xadrez de sentido
único, o Binhanquerem Na Tchanda, bem como todos os oficiais que com ele
festejavam a sua despedida, foram detidos na Segunda Esquadra da Polícia e
submetidos a interrogatórios, pelos oficiais de segurança do ministério do
Interior, logo no dia seguinte.
Enquanto
as audições decorriam na Segunda Esquadra, João Bernardo Vieira viajou para os
EUA com o fim de assistir às comemorações do 40° aniversário da Organização das
Nações Unidas. No quadro das suas funções de vice-presidente do Conselho de
Estado, e na ausência programada do Presidente da República, cabia a Paulo
Correia, assegurar a permanência do cargo
durante a sua ausência...
Entretanto,
os ministros das Forças Armadas e do Interior resolveram criar uma comissão
para inquirir parte dos detidos. Submetidos a insuportáveis torturas, estes
tiveram que confessar as acusações que pendiam sobre eles. Tué Na Bangha e
Tagme Na Wae teriam sido de tal maneira torturados que, temendo que pudessem
morrer, a Comissão de Inquérito transferi-los-ia para a Marinha de Guerra que,
pela sua proximidade com o Hospital Militar, oferecia mais condições de
evacuação em caso de necessidade.
Naquele
mês de Outubro de 1985, Iafai Camará conseguira arrancar dos prisioneiros as
confissões desejadas. Em seu poder, exibiria a cassete da gravação dos
interrogatórios e gabar-se-ia frente ao Queba Sambú de finalmente possuir
provas irrefutáveis que incriminavam o Paulo Correia. Afirmaria ainda ao seu
interlocutor de que tinha expressamente substituído os oficiais dos SCIM por
elementos do Supremo Tribunal Militar!
Entretanto,
João Bernardo Vieira, depois de ter assistido às comemorações da ONU nos EUA,
de regresso à Guiné-Bissau, passou por Lisboa onde permaneceria vários dias na capital
portuguesa. Certos jornais classificaram o gesto de “compasso de espera”.
Chegado
finalmente a Bissau, o seu Vice-Presidente não estava no aeroporto à sua espera
como mandava o protocolo, pelo simples motivo de que a ele, tinham ocultado de
propósito a chegada de João Bernardo
Vieira.
Paulo
Correia faria tudo para se entrevistar com o Presidente da República, mas a
barreira de ferro já se tinha erguido entre eles. Comentando o facto, o ainda
ministro da Justiça diria que se encontrava “completamente bloqueado” e que
sabia que as intrigas, levadas a cabo pelos que chamava “rodeantes”, estavam a
“bombardear” o João Bernardo Vieira de informações caluniosas sobre ele,
ligadas a um pretenso golpe de Estado que teria preparado com os oficiais
balantas.
No
dia 6 de Novembro de 1985, no fim da tarde, Paulo Correia seria convocado a uma
reunião no Secretariado do PAIGC. À sua espera encontravam-se, entre outros, o
Presidente da República, Iafai Camará e José Pereira, já sobejamente
conhecidos, e Lourenço Gomes, este último Director da Segurança Nacional.
Arquitectou-se
então a cena da audição das cassetes onde Paulo Correia era apontado como
mentor de mais uma tentativa de golpe de Estado contra o Presidente João
Bernardo Vieira. “O ministro da Justiça ouviu-as num profundo silêncio, e no
fim, ao ser indagado, por mera 12 formalidade, do que pensava quanto às
acusações, respondeu considerá-las produto das actividades do inimigo dentro do
Partido e terminou concluindo que o inimigo vencera.”
A
ordem de prisão, que durante tanto tempo fora minuciosamente preparada,
abateu-se sob os ombros de Paulo Correia que de imediato foi conduzido à
Segunda Esquadra, na “Cela Sul”, a mais inospitaleira da prisão. Mais tarde,
endereçaria uma carta ao Presidente da República, “alertando-o para o facto de
haver quem, com intrigas e fictícios golpes de estado, estava a destruir o
Partido.”
“Nino”
autorizaria que Paulo Correia fosse retirado da prisão para um regime de
residência vigiada. Esbarrar-se-ia aos protestos do seu ministro das Forças
Armadas, Iafai Camará, que o induziria a abandonar a ideia sob pena de vir a
sofrer pesadas consequências.
A
exemplo do que se passara com os outros detidos, Paulo Correia seria submetido
às piores torturas, por ordens expressas da Comissão de Inquérito, constituída
pelos tais “graduados irregulares”, a soldo do coronel Iafai Camará.
Queba
Sambú julga que “O Presidente Vieira” não teria conhecimento das torturas...”
O
autor do livro Ordem para matar – Dos fuzilamentos ao caso das bombas da
Embaixada da Guiné, depois deste acontecimento e de mais outros que relatou,
pediu que fosse substituído no cargo de Chefe dos SCIM e ser transferido para o
estrangeiro.
Acabou
por integrar o efectivo da Embaixada da Guiné-Bissau em Portugal.
“ OCaso 17 de Outubro” Hoje
não é segredo para ninguém de que “Nino” Vieira desprezou o apelo do Papa João Paulo
II, virou as costas às organizações internacionais e traiu a confiança das mais
diversas entidades nacionais e estrangeiras, que lhe pediram solenemente, em
nome da humanidade, para que poupasse a vida dos seis condenados à morte, gesto
que poderia, talvez, mudar o curso da história na Guiné. O que o teria levado a
exibir tamanha arrogância?
Para
começar, fazemos de novo apelo ao Queba Sambú, que no livro já citado, escreve:
“Por
um carcereiro e outras fontes, que ainda não posso citar, soube que na prisão, enquanto
se aguardava a concessão de clemência, Paulo Correia dizia: ‘ É verdade que
estão a fuzilar cidadãos inocentes? Não, não posso admitir que isso seja uma
realidade! É incrível que o Presidente se tenha deixado convencer de uma tão
incoerente tentativa de golpe de Estado! Ao menos, dêem-nos oportunidade de
vermos os nossos filhos pela última vez!”
No
entanto, Álvaro Nôbrega, no seu livro intitulado “A luta pelo poder na
Guiné-Bissau” revela por sua vez o seguinte:
“Depois
soube-se que quando os pedidos de clemência chegaram, os réus já tinham sido fuzilados
e enterrados. Segundo a África Continental foram-no poucas horas depois do termo
da reunião do Conselho de Estado.”
Entretanto,
no término do delicado exercício de recomposição a que nos entregamos à volta do
“Caso 17 de Outubro”, deparamo-nos com uma revelação insólita do jornalista
João Carlos Gomes , tornada hoje dia, que, em resumo, diz:
(...)...
Baseado nas informações a que o autor desta peça teve acesso, apesar do facto
de que Paulo Correia foi condenado à morte pelo Tribunal Militar, conta-se que
o então Presidente Nino Vieira ainda não tinha proferido o seu veredicto final,
enquanto Primeiro Magistrado da Nação. (...) Aparentemente, o Presidente estava
a avaliar, não só, o impacto político-militar da decisão, a nível nacional, mas
também, a reacção da comunidade internacional, antes de fazer cumprir a pena de
morte. (...) ”
E o jornalista continua:
“Entretanto,
segundo as mesmas fontes, alguém na hierarquia governamental decidiu mandar
cumprir a sentença. Quando, face às reacções que estava a receber, tanto a
nível interno como internacional, o Presidente Nino Vieira voltou a abordar a
questão do Paulo Correia com o indivíduo em questão, foi informado de que: “No bibil dja udju” (termo crioulo,
utilizado noutros tempos, no seio do PAIGC, como código para, ‘fuzilamento’).
(...) ”
Mas
o Álvaro Nôbrega volta à carga: “Recentemente tem sido divulgada uma nova explicação
para o facto dos seis condenados à pena capital não terem sido poupados. Os pormenores
não são muito abundantes em relação a quatro dos fuzilados, mas sobre o Paulo Correia
e Viriato Pã, as caras do Golpe, conta-se, segundo o ‘Banobero’ que terão sido brutalmente
seviciados após a condenação.”
Eis
com efeito, o que o jornal guineense ‘Banobero’ escreve: “Quebraram a bacia do
Paulo Correia e este rastejava, na Segunda Esquadra (...) pois não podia caminhar.
Ao Viriato Pã ferroaram-lhe os olhos.”
Retomando
Álvaro Nôbrega: “ Fisicamente destruídos, estes homens constituiriam, aos olhos
de todos, a prova viva da falta de humanismo do regime pelo que se ordenou a
sua rápida execução em local que permaneceu secreto até à queda de Nino em
1999, ‘encontrando-se’ por essa data a vala comum com 22 cadáveres; os mortos
do processo cujos corpos nunca foram entregues às famílias, nem aos cuidados de
um médico legista.”
“Teriam
sacrificado os outros (...) para que não se dissesse ser ‘o segundo homem’ do
País o único alvo político, e dessa maneira tornar mais verosímil a
mistificação dos golpes de Estado?”
É uma versão muito triste, principalmente, por serem irmãos, da mesma trincheira durante á luta de libertação nacional. Para dizer a verdade, sempre em cada contexto, houve especialistas em criar invenções em nome da intentona! verdade ou não, sobre o caso 17 de Outubro se o Nino Vieira tivesse agido de sangue fria e com cabeça, no passado histórido de luta de libertação nacional, concerteza, não sofreria á retalhação de 2 e 3 de Março de 2009. Mas também, não é menos verdade, que o Nino Vieira temia o contexto, que se vivia na Africa e própriamente á desconfiança, entre os irmãos da arma. Diziam-se que, havia realmente, verdadeiras tentativas de golpes, que foram abortados. Perante essa situação, onde é que colocaria o livro póstumo do Felinto Barros: o testemunho, que chamou Koumba Yalá, de cúmplice e orquestrador da intentona, por ter témido o Viriato Pã e que gostaria de ser lider, dos balantas?
ResponderExcluirQue pena
ResponderExcluirTriste,mais triste mesmo.
ResponderExcluirO passado é um armazém de ensinamentos para quem queira aprender. Mas muitos não aprendem absolutamente nada e incorrem-se no mesmo erro vezes sem conta.
ResponderExcluirSomos pequenos e efémeros e a nossa vida é como a beleza duma flor: bonita de manhã e murcha a tarde. Mas mesmo assim lutamos para, no curto intervalo das nossas vidas terrena, sermos notoriis. Acalentamos sempre a ambição de sermos donos do mundo, um mundo que é dono de nós e, por conseguinte, milhões de vezes mais velhos que nós. Matamos uns aos outros e no fim não conseguimos resistir a morte e acabamos sepultados como as nossas vítimas.
O que importa o homem o mundo e perder a sua alma?